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O Último Romântico: Vou de Democracia!

O Último Romântico: Vou de Democracia!

Quando o PT foi criado já havia experimentado todas as emoções de inconformismo.

Lera tudo o que encontrava pela frente, até coleção inteira de Dostoievsky, entrara no partidão, me filiara à Sociedade Amigos da União Soviética, visitara Cuba, conversara com David Capistrano e Hiram Pereira e tentara imitar Vinicius de Moraes.

Era uma espécie de revolucionário lírico, tipo Taiguara, muito antes dele posar ao lado de Prestes e Bete Carvalho.

Talvez por isso, quando fui preso em 1964 não conseguiram arrancar nada de mim. Era incapaz até de falar alto, daí a soltura após 30 dias de inúteis interrogatórios. Conseguiram no máximo que eu confessasse minha admiração por Miguel Arraes e Teresa Goulart, com quem estivera um dia no Palácio da Alvorada, acompanhando atores do Movimento de Cultura Popular.

Foram esses antecedentes, talvez, que me fizeram desacreditar de cara de um partido que tentava inovar, em termos revolucionários, baseado apenas na disposição de destemidos operários.

Na verdade, o que eu tinha era medo.

Muitos amigos haviam sido torturados, outros desaparecidos, o que me fazia andar olhando para trás e para os lados, vendo um agente de polícia em cada interlocutor.

Obviamente, eu não tinha nenhuma importância na ordem das coisas, sequer era conhecido, embora tivesse assinado algumas reportagens na Última Hora/Nordeste e tivesse sido assessor de imprensa da prefeitura do Recife quando o prefeito era Pelópidas Silveira, amigo incondicional do governador Arraes e do presidente Jango.

Bastava essa sintonia para desencadear perseguição e gerar medo. Como todo mundo, tinha certa admiração por Lula, com quem todo nordestino se identifica.

Tinha praticamente as mesmas origens, ele era de Garanhuns e eu de Gravatá – o G nos unia – e ambos éramos paus-de-arara. Ele veio de caminhão e eu numa Kombi com onze homens.

A única diferença é que cheguei no Brás sozinho e sem nenhum dinheiro e ele chegou com um monte de irmãos. Ele era semianalfabeto e eu já era jornalista, embora sem diploma. Egoisticamente, passei a priorizar minha sobrevivência. Casei e criei dois filhos paulistanos, deixando para trás os sonhos de consertar o mundo. Virei repórter técnico, crítico de MPB, repórter generalista, assessor de imprensa – tudo, menos político.

Apesar de tudo, ninguém pode me chamar de covarde. Lancei uns sete livros, o primeiro de poemas, imaginem a ousadia.

Tudo porque Mauro Mota, secretário de redação do Diário de Pernambuco, um dia acolheu uns versos meus.

Mesmo assim, talvez o conteúdo seja mais criativo que o título – “O último romântico”, lançado em 1990, antes da canção de Lulu Santos, suponho.

As tergiversações dessa modesta trajetória justificam a opção pela democracia. Não poderia fugir dessa inarredável posição. Vou de democracia.

Jornalista profissional desde 1962, quando começou na Última Hora, Recife. Seu último emprego foi como assessor de imprensa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, onde ficou 21 anos. Antes, trabalhou em duas outras assessorias de imprensa: Siemens e Unibanco. Já havia passado por diferentes experiências como repórter e redator na Editora Abril, O Estado de S. Paulo, Diário do Grande ABC, A Gazeta e Diário do Comércio e Indústria. Escreveu três livros: "Pois não, Doutor". sobre o HC; "Viver Tem Remédio", crônicas, e "As Boas Lembranças da Luta", em que repassa acontecimentos ligados a efêmeras atividades políticas. Foi casado durante 10 anos, tem dois filhos e seis netos.

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