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A taça de juros

Os acréscimos de um jogo

Há 64 anos, quando o Brasil sediava a primeira copa do mundo no país e a moda continuava sendo o bambolê, cientistas políticos e economistas tiveram que rebolar para criar estratégias de estabilização econômica em um importante período de crescimento na vida dos brasileiros. E hoje? Estamos fazendo direito nossa lição de casa? Será que soubemos usar bem esse momento ou seremos apenas observadores do espetáculo? Independente da sua resposta, o resultado de quem paga o pato, a gente já conhece. O que tem sido colocado em pauta é até quando iremos suportar calados?

Para desacelerar as dúvidas e incertezas que circundavam o cenário social e econômico do Brasil em 1958, Juscelino Kubitschek lançou o PEM – Programa de Estabilização Monetária. Com isso, pretendia-se reduzir as taxas de inflação sem colocar em risco a execução dos investimentos de um estruturado plano de metas. Assim, considerando o desempenho positivo da economia brasileira numa época de pós-segunda guerra mundial até o advento do movimento militar de abril 1964, nosso país atingiu o compromisso de expansão e desenvolvimento nacional que se pretendia.

Se naquele mesmo ano, não foi preciso uma Copa do Mundo a melhor maneira de atingir rápidos resultados de crescimento, na atual Copa de 2014 perdemos a melhor chance. Afinal, foram previstos investimentos de serviços em infraestrutura de até 30 bilhões de reais.

Devemos considerar que eventos realizados em países abaixo da linha do Equador são diferentes de um evento na Europa ou na América do Norte, já que os países com maior desenvolvimento não precisam de grandes reformas estruturais. No Brasil, a Copa já começou no negativo. Reza a lenda, de que foram precisos investimentos em outras áreas que não apenas nos estádios. Além de todos os problemas relacionados com acidentes, atrasos e superfaturamento na construção das arenas esportivas, a Federação de Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo — Fecomercio/SP, demonstrou preocupação com o impacto negativo dos 64 feriados autorizados com a Lei Geral da Copa.

E apesar dos setores de turismo como hotelaria e restaurantes sejam aquecidos pontualmente, o estímulo não será suficiente para compensar as perdas geradas por causa dos feriados.
Segundo o economista e também professor da Univap – Universidade do Vale do Paraíba, Roque Mendes, o fato de um megaevento como a Copa não impulsionar o PIB de um país não deve ser um problema exclusivo do Brasil.

Um estudo divulgado pela FGV — Fundação Getúlio Vargas, afirma que apesar da expectativa de que o Mundial elevaria o PIB em 1,5%, em dezembro de 2013, o Banco Central previu um cenário diferente com menos de 1%. Escândalos políticos também foram decisivos para causar desconfiança do mercado internacional, facilitando uma especulação negativa na economia do país. Resultado que podemos observar com o aumento dos juros. Se você não percebeu isso ainda, experimente comer um lanche ou mesmo tomar um sorvete durante a Copa.

O clima de insatisfação já está instalado desde a abertura das Copas das Confederações, quando a presidente da república Dilma Roussef e o presidente da FIFA, Joseph Blatter foram vaiados diante do público presente no estádio Mané Garrincha, em nível global de transmissão.

Se para Dilma, essa será a “Copa das Copas”, para o povo brasileiro – que em junho do ano passado protestou contra os gastos públicos da competição -, mais vale novos 33 mil leitos nos hospitais do que 33 mil assentos provisórios, como é o caso da Arena de Itaquera.

A dois meses da Copa, manifestações se tornaram frequentes. Ao todo somam-se cinco atos contra a realização do evento. Portanto, a bola não irá rolar somente nos 90 minutos dentro de campo. O jogo mais importante pode acontecer fora dele.

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