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Festival FALA! anuncia o lançamento do Instituto FALA! e de edital nacional para estimular a produção de conteúdo pautado na diversidade, nos direitos humanos e na democracia

O festival, que aconteceu presencialmente em Salvador (BA), reuniu grandes nomes do jornalismo independente brasileiro; em seu final, foi divulgado o anúncio do Edital FALA! de comunicação, cultura e jornalismo de causas para grupos de comunicação independentes, coletivos e artistas

Os organizadores do Festival FALA! Antônio Junião, Pedro Borges, Elaine Silva, Rosenildo Ferreira e Laércio Portela iniciando o primeiro dia de festival | Crédito: Fernanda Maia

No último final de semana, aconteceu em Salvador (BA) o FALA! – festival de comunicação, culturas e jornalismo de causas. A partir de mesas de debates, oficinas e intervenções artísticas, o evento discutiu o papel dos meios de comunicação independentes no acesso à informação por vias democráticas e diversificadas.

O final do encontro foi marcado pelo lançamento do Instituto FALA!, coordenado por 1 Papo Reto, Alma Preta, Marco Zero Conteúdo e Ponte Jornalismo, as quatro entidades fundadoras. Esta nova instituição buscará impulsionar as discussões e os debates sobre o jornalismo de causas. Seu primeiro projeto é o Edital FALA!, cujo objetivo é estimular a produção de conteúdos jornalísticos que dialoguem com narrativas e linguagens sobre arte e culturas, comprometidas com a diversidade e em defesa dos direitos humanos e da democracia a partir das vivências dos territórios periféricos.

”A iniciativa começou com o festival e a ideia é ampliá-lo para outras atividades, como o Edital que está sendo divulgado agora. Além disso, estão previstas formações e outros eventos, além do festival, que acontece anualmente”, explica Laércio Portela, do Marco Zero Conteúdo.

A inscrição para o Edital se dará nos próximos meses e se destina a grupos de mídia independente, coletivos de comunicação popular e de jornalismo local, arte e cultura, que apresentem propostas voltadas para a produção de conteúdo informativo, visibilizando histórias e culturas de resistências a partir dos territórios periféricos, como prevê o documento. Mais informações serão divulgadas por ocasião da abertura do Edital.

SOBRE A TERCEIRA EDIÇÃO DO FESTIVAL FALA!

Com três dias de duração, o festival se iniciou na quinta-feira, 25, com a performance poética da rapper Amanda Rosa, seguida pela mesa de abertura O lugar da utopia em um mundo distópico, que foi marcada pela presença do fundador do Instituto Brasileiro de Diversidade (IDB), Helio Santos, da doutora em comunicação Cíntia Guedes e da jornalista Cristiane da Silva Guterres. Em discussão, Helio apontou a necessidade de assumir que o Brasil é um país em déficit com a comunidade negra, especialmente as mulheres. Além disso, comentou sobre a gentrificação e o Índice de Desenvolvimento Humano dos condomínios em relação às favelas.

Mesa de debate O lugar da utopia em um mundo distópico, integrada por Cíntia Guedes, Cristiane da Silva Guterres e Hélio Santos | Crédito: Fernanda Maia

Na sexta-feira, 26, os debates foram iniciados pelo tema Entre redes e ruas: que democracia é essa?, mediado pela doutora em ciências da comunicação Rosane Borges, que recebeu Michel Silva, do Fala Roça, a líder indígena Célia Tupinambá e a jornalista Midiã Noelle. Durante o encontro, o líder do Fala Roça destacou a divergência da lei nos territórios periféricos e a falsa democracia dentro destes lugares. Na sequência, o tema Novas resistências para velhas violações foi apresentado por Valéria Lima, do Correio Nagô, ao lado dos jornalistas Guilherme Soares e Denise Mota, e da comunicadora Claudia Wanano, que debateu sobre o papel do jornalismo independente. Durante a conversa, Claudia salientou a importância da comunicação e do acesso à informação local focada nos povos indígenas. “Têm jornalistas que falam coisas sobre nós de forma distorcida. É uma visão dele, então ele vai lá, faz uma matéria e publica, mas não é a realidade do que vivenciamos na comunidade. Eu acho que trazer a informação pelo nosso olhar, pela nossa fala, é comunicar de forma verdadeira, e não uma notícia que alguém escreveu e deduziu que os povos indígenas vivem dessa maneira”, argumenta a comunicadora de São Gabriel da Cachoeira (AM).

 

Mesa de debate Uma cidade para todas as histórias, integrada por Mônica Santana, Luna Bastos, Débora Didonê e Marcelo Teles | Crédito: Fernanda Maia

Mesa de debate Uma cidade para todas as histórias, integrada por Mônica Santana, Luna Bastos, Débora Didonê e Marcelo Teles | Crédito: Fernanda Maia

Para encerrar o segundo dia de FALA!, a jornalista Mônica Santana mediou a discussão sobre Uma cidade para todas as histórias, que contou com a participação da artista visual Luna Bastos, da gestora do movimento Canteiros Coletivos Débora Didonê e do coordenador do Centro Cultural Que Ladeira é Essa, Marcelo Teles. Os pronunciamentos giraram em torno do movimento da arte que perfura a gentrificação dos grandes centros e a exclusão de pessoas e do saber que permeia há muito tempo neles. “A arte urbana em essência é reivindicar o direito à cidade, é reivindicar nossa existência. Muitas vezes, são pessoas periféricas e querem de alguma forma comunicar que estão ali, que estão resistindo e quem tem o direito de intervir neste espaço urbano”, comentou a convidada Luna Bastos durante sua fala.

Dando início ao último dia de evento, no sábado, 27, Semayat Oliveira debateu Novas formas de ver e contar o mundo através da perspectiva de Fabiana Lima, do Slam das Minas, do escritor Darwiz Bagdeve e da cineasta Yane Mendes. Durante a mesa composta por participantes nordestinos, a mediadora provocou uma reflexão sobre a necessidade de descentralizar narrativas e investimentos para além do eixo Rio-São Paulo.

O debate intitulado Nós por nós. Identidade, cultura ancestral e combate ao silenciamento teve apresentação de Naira Santa Rita, e presença dos jornalistas Erisvan Guajajara e Joyce Cursino e da educadora Natureza França. Eles analisaram os conceitos de desenvolvimento eurocentrista no país e o papel da internet e da comunicação digital como ferramenta de denúncia pelos direitos, que foram brutalmente violados por anos. “Ainda há um vazio muito grande, um silenciamento muito grande. Nas escolas ainda não está o que a gente precisa saber, mas vamos tentando buscar nesse silêncio e nessas violências todas que atravessam a vida de uma mulher na periferia. Uma mulher negra, pensando no IBGE, tem a caracterização preta e parda, mas onde está a minha ancestralidade Tupinambá nessa história?”, provoca Natureza durante o debate. “Antes do Brasil da coroa, existia o Brasil do cocar. Precisamos lembrar disso. Nós queremos participar do governo para lutar por nós”, pontua Erisvan em sua fala.

Erisvan Guajajara, Natureza França, Naira Santa Rita e Joyce Cursino, integrantes da mesa Nós por nós. Identidade, cultura ancestral e combate ao silenciamento | Crédito Fernanda Maia

No encerramento, Antonio Junião (Ponte Jornalismo), Elaine Silva e Pedro Borges (Alma Preta), Laércio Portela (Marco Zero Conteúdo) e Rosenildo Ferreira (1 Papo Reto), responsáveis pela organização e idealização do festival, anunciaram a criação do Instituto FALA! e qual será sua primeira ação: lançamento de um edital destinado para veículos independentes pautados nos direitos humanos, diversidade e democracia.

Todas as mesas e intervenções artísticas podem ser vistas no canal do Festival FALA! no Youtube.

Sobre o Festival FALA!

FALA! é um festival independente realizado por Alma Preta (SP), Marco Zero Conteúdo (PE), 1 Papo Reto (SP) e Ponte Jornalismo (SP) – grupos profissionais que fazem comunicação e jornalismo a partir de experiências populares, comunitárias, profundamente conectadas à defesa dos direitos humanos, ao combate às discriminações e desigualdades, à defesa do direito ao território e ao meio ambiente saudável e inclusivo.

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