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O Brasil não é para amadores!

O Brasil não é para amadores!

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A frase do título foi proferida pelo maestro Tom Jobim, ao tentar explicar nossa sociedade para colegas estrangeiros. Ele tinha razão. O sucesso das Olimpíadas, da Copa do Mundo e a do que já mostramos na abertura da Paraolimpíada mostraram ao mundo que, mesmo sem planejamento e com muitos problemas no decorrer dos projetos, no final, tudo deu certo! E muito certo!

Não planejamos direito e contamos com a nossa capacidade de resolver os problemas conforme aparecem, e com os recursos disponíveis (chamamos isso de “jeitinho”). Essa é nossa maior caraterística, e nossa maior força, a ponto de sermos reconhecidos mundialmente por isso.

Estamos errados? Não, simplesmente somos assim! Somos tão diferentes como os britânicos, com sua pontualidade obsessiva, ou como os americanos, com sua prepotência global, ou como os radicais islâmicos, que degolam seus inimigos. Nelson Rodrigues disse que, de perto, ninguém é normal. O mesmo vale para todos os povos do mundo.

Planejar no Brasil é, praticamente uma perda de tempo. Nossos governos (todos e de todos os tempos) são os principais culpados disso. As leis, normas, procedimentos e marcos legais mudam ao seu bel prazer, sem motivos ou, sequer, alguma logica razoável. Vivemos com um arcabouço legal instável e imprevisível. Até o nosso passado é incerto! Como planejar um empreendimento quando as normas e leis futuras vão mudar o escopo e os riscos previstos hoje? Sinceramente, planejar no Brasil, é inútil.

Se planejar é inútil em empreendimentos também o é na vida. Aproveitamos o hoje sem nos preocuparmos com o futuro. Os problemas futuros serão resolvidos, no futuro! E de algum jeito. Assim nossa vida é mais leve e mais divertida. Levamos tudo na brincadeira e fazemos piada até de fatos importantes. Pode-se chamar isso de irresponsabilidade, mas é assim que somos.

Nossos cronogramas e orçamentos de projetos, e de empresas, como todo o resto, também são imprecisos e, invariavelmente, estouram os valores previamente estimados. Porque isso ocorre? As leis mudam, as regras já estabelecidas mudam, as prioridades mudam, as pessoas interessadas mudam. Tudo muda durante projetos longos no Brasil.

Nossa postura refratária ao planejamento, mesmo com tantas justificativas, nos cobra um preço alto. Nossos custos são elevados e os resultados nem sempre são aqueles previstos inicialmente. Infelizmente gastamos mais recursos do que seria efetivamente necessário em função da nossa falta de planejamento. Nossas obras demoram, desperdiçam materiais, e geram custos extras para os interessados. Esse desperdício estrutural acontece em todos os empreendimentos de todos os tipos de negócios. Nossas lojas, restaurantes, lanchonetes e outros empreendimentos são mais caros do que deviam pois precisam cumprir um emaranhado de normas, leis e vontades burocráticas nem sempre justificáveis.

Ser empresário nessa realidade exige uma grande capacidade de enfrentar riscos decorrentes das incertezas do ambiente de negócio brasileiro. A chance de uma empresa dar certo, no Brasil, é pequena, e depende da resiliência do empresário, da sorte e da sua capacidade de improvisar frente as incertezas e dificuldades que os próprios governos criam. Essa é a principal razão da alta mortalidade das jovens empresas locais.

Realmente planejar no Brasil é um ato inglório e talvez, por essa razão, preferimos improvisar e usar o “jeitinho” para resolver os problemas que aparecerão no decorrer dos projetos. Mas essa é nossa principal característica como gestores e empreendedores. E somos bons em improvisar. Não somos europeus, asiáticos ou africanos. Somos brasileiros e vivemos no Brasil. Somos profissionais nisso.

Fonte: Instituto Illuminante

Paulo Rogério Foina é físico, doutor em computação, professor e coordenador de cursos do UniCEUB, consultor do Instituto de Pesquisas Eldorado e diretor executivo do Instituto illuminante de inovação.

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