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Caixa de pipoca ou lata de sardinha

Aquele moleque não parava de pedir! Repetia sempre a mesma coisa: “Mãe, me dá a pipoca.”

Enquanto eu era empurrado e esmagado para subir ao ônibus, observava uma linda jovem de cabelos escuros, esforçando-se ao máximo para pagar o pipoqueiro, temendo perder o ônibus que já estava partindo. Quando estava quase sem fôlego, consigo chegar ao cobrador, pelo qual sou recebido em seu campo de visão com um simples abano positivo com a cabeça. Por sorte, já estava preparado com o cartão de passe em minhas mãos, temendo não ter espaço suficiente para retirá-lo em função do excesso de pessoas que lotava o veículo.

O ônibus dá um tranco logo após eu passar a catraca, e ouço alguém reclamar que bateu a cabeça. Essa parece a única reclamação já que, pelo visto, todos estão acostumados com esse tipo de ocorrência.

Assim como um zagueiro desarma um atacante com um carrinho, aquele mesmo moleque da pipoca utilizava-se dessa peripécia, mas, dessa vez, para passar por baixo da catraca.

Confesso que não me surpreendi com a cena, já que desde cedo somos instruídos a dar um “jeitinho” para não termos que arcar com algum prejuízo financeiro, o que me faz lembrar da Copa do Mundo. Imediatamente, sinto um intenso cheiro desagradável no ar. Olho para o lado, e aquele mesmo garoto, continuava a comer a pipoca, deixando um monte de queijo cair no chão.

Um senhor de idade, que parecia não se incomodar com o ônibus lotado e nem com o odor da pipoca, segurava um jornal. No verso pude ver que se tratava da sessão de esportes, onde a matéria principal descrevia a morte de dois operários na Arena de Itaquera. Mais abaixo, uma manchete mostrava a frase em letras garrafais: “De fracasso em fracasso o Brasil é campeão”.

No país do pandeiro, quem impera é o futebol, a propaganda, a novela e o jornal. Se a nação tivesse todos seus problemas resolvidos, não haveria problemas em sediar uma Copa. Mas, acontece que aqui há pobres que se matam pela vida. A nova classe média são os novos ricos que se acostumaram a viver na miséria.

Ah, o Brasil! Um país multicolorido de um povo alegre que não é e, talvez, nunca fora feliz.

Ainda que tudo isso não seja suficiente, o governo aplica dinheiro de seus cofres para fazer a iniciativa privada lucrar e aumentar a dívida da União ainda mais. Na terra do pau-brasil – que do antigo nome não existe sequer a árvore -, tudo, e eu disse tudo, foi pilhado. A corrupção é endêmica e todos querem lucrar e proteger seus interesses. O governo, sempre a mando do Banco Central e FMI fazem a pátria cambalear rumo ao desconhecido. O povo brasileiro é muito ingênuo e preconceituoso por natureza. E é aí que eles são pegos pela propaganda, comprometendo seus orçamentos muito acima do que seria possível.

O ônibus fez mais uma parada e o mesmo senhor de idade, que acompanhava as notícias de futebol, olhou para o garoto que lhe ofereceu a pipoca. Com um semblante aparentemente feliz, ele aceitou. Não foram necessárias muitas mastigadas para que ele se engasgasse.

O Brazil não é igual ao Brasil, que tentam esconder durante o período de festividades, pois o segundo, assim como o “velhinho da pipoca”, só quem o conhece pode dizer que falta pouco para o último suspiro.

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