Amãe natureza grita. Pede socorro. As veias de seus afluentes quando não envenenadas, secam nas profundezas do esquecimento público. Ou será que ainda há pessoas que estão observando de perto e buscando soluções para salvar o pouco que resta da mata atlântica? O Vale do Paraíba é um eixo muito importante para o Brasil, mas os danos ambientais causados pelos anos de agropecuária extensiva e pelo crescimento industrial e urbano, produziram um ambiente degradado, com escassez de recursos naturais e falta de qualidade ambiental. |
É chegado o momento de entendermos que o meio ambiente não trabalha para o ser humano, mas junto com ele. O homem precisa desenvolver uma relação de cooperação com o meio e não de competição. Não é o desenvolvimento ou a floresta, mas sim o desenvolvimento e a floresta. O Corredor Ecológico do Vale da Paraíba foi criado em 2006 com o objetivo de recuperar a Mata Atlântica por meio da conexão florestal, na porção paulista do Rio Paraíba do Sul, associado com a proteção de recursos hídricos e desenvolvimento sustentável da região. |
O Corredor Ecológico do Vale do Paraíba
por Georges Ryoki, Luiz Kleber e Norma Medeiros
O Corredor Ecológico do Vale do Paraíba tem reunido organizações do primeiro, segundo e terceiro setores em busca de uma meta ambiciosa: reconectar mais de 150 mil hectares da Mata Atlântica, ligando áreas florestais isoladas. Por isso, desenvolve projetos em parceria com ONGs regionais, universidade, órgãos públicos e privados.
Dentro dos esforços de conservação e restauro, o projeto propõe alternativas técnicas e metodológicas para reconectar fragmentos remanescentes dispersos entre as áreas protegidas da Serra do Mar e da Serra da Mantiqueira.
São destaques as ações de apoio à pesquisa para redução do aquecimento global, fomento à legislação e políticas públicas para o pagamento de serviços ambientais, educação ambiental e atividades de valorização da cultura do Vale do Paraíba. Além disso, os projetos contribuem também para a viabilização de unidades de conservação e estimulam alternativas econômicas sustentáveis, envolvendo e beneficiando comunidades locais.
Idealizado por quatro empresários, José Luciano Penido (Fibria), Mario Mantovani (SOS Mata Atlântica), Oded Grahew (Instituto Ethos) e Tamas Makray (Instituo Oikos), um ano depois da criação a iniciativa começou a tomar corpo e novos parceiros como a AMCE Negócios Sustentáveis e o geógrafo Paulo Valladares, que começaram a aprimorar a iniciativa e conquistar parceiros, que atuam até os dias de hoje.
Para organizar e cumprir a meta de reconexão das áreas florestais por meio de parcerias empresarias, governamentais e não-governamentais, em 2010 foi constituída a Associação Corredor Ecológico do Vale da Paraíba (ACEVP), que se tornou responsável pela implementação da iniciativa. O projeto conta com a contribuição de empresas parceiras, doações de pessoas físicas – realizadas através do site da organização –, pessoas jurídicas que se disponibilizam a fazer doações pontuais, além de contar com a equipe de voluntários que auxiliam na divulgação, plantio e eventos da ACEVP.
Além disso, o Corredor Ecológico se destaca por suas ações de apoio à pesquisa para a redução do aquecimento global, fomento à legislação e políticas públicas para o pagamento de serviços ambientais, educação ambiental e atividades de valorização da cultura do Vale da Paraíba.
Projetos que contribuem para a viabilização de unidades de conservação e estímulo a alternativas sustentáveis, envolvendo e beneficiando as comunidades locais, também são destaques das ações da ACEVP, pois a organização acredita que sem o envolvimento das pessoas na formação de florestas, desenvolvendo nelas um sentimento de pertencimento dessa área recuperada, será impossível manter a sustentabilidade da mesma ao longo dos anos.
Muita pesquisa e trabalho especializado
Conversamos com Mariana Cassiano Ferreira, Técnica em Meteorologia, Engenheira Ambiental e Mestre em Engenharia Civil e Ambiental.
Com apenas 31 anos, ela já trabalhou em algumas empresas na região como gestora ambiental e investindo na carreira acadêmica, também foi professora durante um ano e meio para a turma de Engenharia Ambiental na Universidade do Vale do Paraíba. “Queria muito aprimorar meus estudos e fui buscar meu mestrado. Por gostar muito da área, sempre estive envolvida em muitos projetos.”
Foi assim com o Projeto Rondon, quando ela teve a oportunidade de conhecer o Chuí, no Rio Grande do Sul, além de trabalhar com políticas públicas. A engenheira, envolveu-se também em vários trabalhos de pesquisa, até que um deles a levou para o caminho que segue hoje. “Conheci o Projeto Corredor Ecológico durante o mestrado, e auxiliei no desenvolvimento de sua metodologia principal. Me encantei tanto com o projeto, e com a possibilidade de fazer algo útil para o mundo, que desde 2011 trabalho como Analista Ambiental da OSCIP Corredor Ecológico.”
“Precisamos trabalhar estrategicamente e convergir as políticas públicas com os anseios da população. Iniciativas como a do Corredor Ecológico, além de estratégica é inteligente e viável. O caminho são as pessoas e o combustível é a vontade de fazer o bem para a sociedade e para o planeta.” — Mariana Ferreira
Em julho deste ano, uma reportagem exibida pela Rede Globo de Televisão, mostrou como a extrativismo nas margens do Rio Paraíba do Sul tem afetado diretamente na qualidade da água e no ecossistema da região. Em nota, o Corredor Ecológico disse que pretende recuperar cerca de 6 mil hectares que foram degradados pelo homem. Este calculo foi feito a partir da criação das linhas de conectividades utilizamos e a quantidade da área de preservação hídrica reflorestada.”
Segundo a engenheira, o Corredor Ecológico pretende fazer estes plantios por meio de parcerias empresariais, governamentais e não-governamentais, mobilizando pessoas e organizações civis, auxiliando na criação, implementação e aprimoramento de Políticas Públicas.
Ainda segundo a engenheira, “os benefícios do projeto são incalculáveis, porque eles vão além dos benefícios ambientais, que já são muitos, como a preservação da biodiversidade e dos recursos hídricos, a regulação do clima e a manutenção da qualidade de vida das pessoas. O envolvimento da comunidade do entorno com ações de educação ambiental é muito importante, pois focamos o entendimento da importância da floresta em pé e seus benefícios diretos e indiretos”.
O Corredor Ecológico do Vale do Paraíba quer interligar unidades de conservação e outras áreas naturais, possibilitando a conectividade entre elas, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, em uma proposta de conciliação na conservação da biodiversidade e o desenvolvimento ambiental e socioeconômico da região.
Estudos e pesquisas em parceria com a Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá (FEG/UNESP), com o propósito de reduzir ao máximo os riscos do investimento florestal, garantir o desenvolvimento e a perenidade das florestas, resultou na aplicação de uma metodologia de reflorestamento denominada “linhas de conectividade”.
Análises e Projetos Ambientais
- Reflorestamento Inteligente
- Transposição do Rio Paraíba do Sul
- Linhas de Conectividade
- Nossa floresta tem água
- Colaboração Ambiental
- Produção de Água
Reflorestar de forma inteligente
A floresta deve fazer parte da vida das pessoas. Essa é a proposta desde 2006 do Corredor Ecológico do Vale do Paraíba.
As “linhas de conectividade” são o grande diferencial desse projeto. Isso significa que os engenheiros ambientais não plantam árvores em qualquer lugar. O objetivo é construir caminhos que liguem os fragmentos florestais remanescentes da Mata Atlântica, favorecendo o desenvolvimento da biodiversidade. Por isso, o Corredor Ecológico fez um estudo recente nos municípios de São José dos Campos, Monteiro Lobato e no distrito de São Francisco Xavier e concluiu que se conseguirem plantar 50 hectares nos lugares corretos, será possível reconectar florestas existentes em uma área de 41 mil hectares. Isso é reflorestar de forma inteligente.
Todo o plantio é feito com espécies nativas e respeitando a relação com o produtor rural. Afinal, a floresta não pode ser algo que atrapalhe as atividades econômicas realizadas nas propriedades. É preciso conciliar os interesses e incentivar o protagonismo local, pois somente indivíduos sensibilizados com a questão ambiental darão continuidade ao trabalho que o Corredor Ecológicio iniciou ao plantar as primeiras mudas desenvolvendo atividades de educação ambiental e oficinas de sustentabilidade para os moradores da região.
A iniciativa de pagamentos por serviços ambientais tem sido uma das formas que o Corredor Ecológico tem encontrado para perseguir as metas de reflorestamento. Uma delas é o Programa Produtor de Água de Guaratinguetá, no qual 26 produtores rurais recebem quantias anuais pelo trabalho de preservação dos recursos hídricos, conservação do solo e das florestas existentes em suas propriedades.
Corredor Ecológico analisa a transposição do Rio Paraíba do Sul
Nos últimos anos, a cidade de São Paulo vem sofrendo com a crise hídrica. Com o objetivo de aumentar a oferta de abastecimento de água da capital paulista, criou-se o Projeto de Transposição do Rio Paraíba do Sul. A obra propõe o desvio de parte das águas do Rio Paraíba do sul para socorrer o Sistema Cantareira, principal recurso hídrico da cidade.
A interligação do reservatório de Jaguarí (Bacia do Paraíba do Sul) ao Atibainha (Sistema Cantareira) tem previsão de execução de trinta meses e custará cerca de R$ 3,5 bilhões. A proposta é construir um canal que leve água do Jaguari para o reservatório do Atibainha, que faz parte do Sistema Cantareira.
A Bacia do Rio Paraíba do Sul abastece os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e a crise hídrica também tem afetado o abastecimento de água dos municípios ao longo do seu curso. O problema da falta de água não afeta somente os paulistanos, ela também é uma preocupação para os habitantes desses estados.
De acordo com a analista e engenheira ambiental do Corredor Ecológico, Carolina Cassiano Ferreira, qualquer investimento dos Estados e Governo Federal realizado para tentar conter a crise hídrica deve obrigatoriamente abranger não só a infraestrutura necessária, mas também priorizar a recuperação de áreas de recargas desses sistemas e melhorias na gestão e planejamento do recurso, evitando perdas e desperdício.
No caso da Represa do Jaguari, a sua principal área de recarga é a Bacia do Rio do Peixe, área essa em constante processo de degradação e passível de vivenciar, em um futuro bem próximo, o ressecamento de suas nascentes. “Se não tivermos investimento pesado nessas áreas de recarga, com recuperação de florestas e adensamento, de nada vai adiantar qualquer investimento em infraestrutura, pois estaremos ligando nada a lugar algum”, explica Carolina ao apontar que só conseguiremos conter a crise hídrica dos próximos anos se tivermos políticas públicas voltadas para a recuperação das áreas degradadas. “Políticas públicas efetivas, que envolvam restauração e mobilização das pessoas pela causa”, finaliza a engenheira ambiental.
A campanha “Operação Gota d’Água tem o objetivo de conscientizar a população do Vale do Paraíba sobre a realidade da crise hídrica e a repercussão que poderá trazer à população dos estados que se beneficia dos recursos hídricos da Bacia do Rio Paraíba do sul. O Corredor Ecológico procura informar a população local sobre a gravidade da situação que tem afetado os paulistanos desde o ano passado e está cada vez mais próxima de ser uma realidade para o nosso vale.
A represa de Paraibuna, outro recurso hídrico da região do Vale do Paraíba também sofre com a crise hídrica, trazendo preocupação a todos. A campanha do Corredor Ecológico chama a atenção da população para a adoção de comportamentos sustentáveis por parte de todos. Se não economizarmos esse recurso tão essencial às nossas vidas, e eliminarmos essa cultura do desperdício de água, irá ficar sem esse recurso essencial em todos os aspectos de nossa vida.
Reflorestar de forma inteligente
Uma quantidade suficiente de mudas e uma área para plantar. Seriam esses ingredientes suficientes para começar um reflorestamento? Embora pareçam que sim, para a Associação Corredor Ecológico, com certeza, não são. Plantar uma floresta, mesmo que seja da melhor forma possível, respeitando o número de espécies de plantas e o espaçamento entre elas, não é suficiente. É preciso integrar esse novo fragmento verde à vida das pessoas em seu entorno e fazer com que a floresta desenvolva o maior número possível de suas funções.
Por pensar assim, a ACEVP optou pela realização de pesquisas antes de iniciar seus plantios. Em parceria com a Empresa Júnior da Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá (FEG/UNESP), foi desenvolvido o estudo "Planejamento estratégico para otimização de investimentos na recuperação da Mata Atlântica no Vale do Paraíba", do qual resultou a metodologia de reflorestamento denominada "linhas de conectividade".
As linhas de conectividade, como o nome sugere, servem justamente para conectar os fragmentos de mata nativa que se encontram isolados no meio da paisagem. Isso significa dizer que, além da interligação física entre os fragmentos, elas promovem o fluxo biológico de espécies, indivíduos e sementes de um ponto a outro no espaço, reduzindo os riscos de extinção, aumentando a biodiversidade e, consequentemente, a capacidade de recuperação ambiental.
Nossa floresta tem água
O rio Paraíba do Sul abastece cerca 15 milhões de pessoas entre São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Só na porção paulista, são mais de 500 bacias de seus afluentes, cada uma com várias nascentes.
Cuidar das nascentes de um rio é cuidar da nossa casa, do nosso planeta. E cada produtor rural ou proprietário de terras no Vale do Paraíba tem importante papel na conservação dos solos que protegem e dão qualidade à água.
No processo de revitalização florestal, a Associação Corredor Ecológico do Vale do Paraíba (ACEVP) vem desenvolvendo alternativas para estimular a participação das comunidades e produtores rurais na recuperação de nascentes e conservação dos solos.
Você também pode fazer a diferença, criando condições propícias para a produção das águas, desde a recuperação e conservação das nascentes até a formação de nossos rios e bacias.
Colaboração Ambiental
Entenda a estrutura necessária para a preservação das nascentes nas áreas de plantio. Pastagem, agricultura e silvicultura com conservação de solo.
Como acontece:
- Construção de fossas, esterqueiras e cercamentos.
- Recuperação das áreas de proteção permanente.
- Estímulo ao cultivo e comercialização de plantas medicinais.
- Estímulo ao cultivo e comercialização de matéria-prima para artesanatos.
- Estímulo ao cultivo e comercialização à fruticultura.
- Estímulo ao cultivo e comercialização dos frutos do palmito-juçara.
- Pagamentos por serviços ambientais (PSA).
Produção de Água
Em conjunto com a prefeitura de Guaratinguetá e outros parceiros, foi lançado o projeto Produtor de Água. Ele prevê o pagamento anual a produtores que protegem e recuperam as suas nascentes, contribuindo assim para a "saúde hídrica" da bacia hidrográfica que abastece o município. Esse modelo pode ser aplicado em outras localidades, desde que seja constituído em parceria pública.
Floresta recuperada e floresta conservada, estímulo ao plantio de espécies nativas e de espécies para o uso econômico, opções de diferentes tipos de madeira a partir de reflorestamento, como o eucalipto, e plantios consorciados.
- Cultivo e comercialização de plantas medicinais.
- Cultivo e comercialização de matéria-prima para artesanatos.
Dessa forma, os produtores rurais locais passam a ter uma cesta variada de opções, capaz de gerar mais recursos por meio de práticas sustentáveis do que por meio da degradação da floresta.
A iniciativa foi inspirada no projeto "Conservador das Águas" do município de Extrema, Minas Gerais.
Você pode fazer a diferença criando condições propícias para a sua conservação desde a nascente até a chegada para formação de nossos rios e bacías. Entre em contato com o Corredor Ecológico e seja um "produtor de água".
Equipe do Corredor Ecológico e Conselho Deliberativo, Fiscal e Consultivo
Claudia Steiner – Diretora Executiva
Ademilson Felix – Diretor Administrativo Financeiro
Tatiana Motta – Diretora de Articulação e Comunicação
Mário Grassi – Diretor Operacional
Carolina Ferreira – Coordenadora Operacional, especialista em Geoprocessamento
Mariana Ferreira – Coordenadora Metodológica
Julio Corrá – Analista Ambiental
www.corredorecologico.org.br