Desde quando os sumérios desenvolveram a escrita cuneiforme, o homem descobriu que o conhecimento compartilhado tem mais valor e efeito do que, simplesmente, guardado para si. Foi durante as fases dos períodos paleolítico, mesolítico e neolítico que o ser humano conseguiu vencer as barreiras impostas pela natureza e se aproveitou disso para transformar matéria-prima e aprimorar outras habilidades. Logo, com o surgimento da escrita os primeiros registros de comunicação sobre acontecimentos vividos em diferentes períodos, puderam ser copiados e traduzidos ao longo da história, servindo como precioso material de conhecimento para a comunidade científica.
“Com a escrita, o homem venceu definitivamente o tempo e, mais ainda, venceu o espaço. Ela permitiu a fixação do conhecimento num substrato material, mantendo-o disponível ao longo do tempo para sucessivas e inúmeras gerações, e, simultaneamente, admitiu a disseminação do conhecimento à distância pelo transporte daquele substrato.” (COSTELLA, 2002)
Dois séculos depois que o alemão Johannes Guttenberg apresentou a máquina de impressão, o sentido de coletividade entre povos para a difusão do conhecimento, já era bastante presente na Europa. Em 5 de janeiro de 1665, a colaboração entre a imprensa francesa e a imprensa inglesa resultou no lançamento de um boletim que ficou conhecido como Le Journal des sçavans (O Jornal de Cientistas) e dois meses depois, em 6 de Março, foi lançada a primeira edição da Revista Philosophical Transactions of the Royal Society (Operações Filosóficas da Sociedade Real), tornando-se a primeira revista no mundo dedicada exclusivamente à ciência. Tendo como objetivo funcional de justamente informar à sociedade e leitores interessados em recentes descobertas, Philosophical Transactions dividiu-se em pares que abrangem as ciências físicas e as ciências da vida, respectivamente e estão disponíveis no site RoyalSocietyPublishing.org que permite às instituições, financiadores e empresas acadêmicas, o acesso aberto em trabalhos acadêmicos de ciência e comunicação para jornalistas e pesquisadores.
Conhecimento Científico e Colaborativo
O fluxo constante de teorias e descobertas, contribuíram com o progresso da ciência de tal modo, que uma das consequências significativas foi a mudança nas atividades dos cientistas e em suas próprias concepções do papel que representam na sociedade. Tão complexas podem ser as consequências do conhecimento científico e de sua aplicação à sociedade que, para Chinoy (1967), “nem sempre se pode traçar com facilidade a linha divisória entre os conceitos puramente científicos e as opiniões com alguma coração política ou fantasiosa”.
É verdade que o surgimento da imprensa viabilizou o acesso à informação que difundiu-se durante a revolução industrial, tornando-se disponível em escala global. Cada vez menos palpável e mais digital, a sociedade passou a usar uma nova forma de escrita, a partir do avanço tecnológico: a escrita virtual.
É possível observar o rápido crescimento da utilização de mídias digitais, aumentando de forma significativa a capacidade de distribuição de conteúdo. Já é comum encontrar sites e aplicativos que oferecem leitura 24 horas por dia, de obras literárias, notícias e estudos científicos em formatos de revistas, jornais e livros digitalizados. A exemplo disso, há novos modelos como o PinnPost, Flipboard, Feedly e o Pocket que possuem recursos modernos e interativos de leitura.
Nesse aspecto, a escrita hoje, abrange os mais variados meios de acesso à informação e do conhecimento científico.
“Os avanços tecnológicos estão sendo utilizados praticamente por todos os ramos do conhecimento. As descobertas são extremamente rápidas e estão a nossa disposição com uma velocidade nunca antes imaginada. A internet, os canais de televisão à cabo e aberta, os recursos de multimídia estão presentes e disponíveis na sociedade. Em contrapartida, a realidade mundial faz com que nossos alunos estejam cada vez mais informados, atualizados, e participantes deste mundo globalizado.” (KALINKE, 1999)
Diante desse cenário em constante processo de evolução, a Divulgação Científica e o Jornalismo Científico, apesar de próximos, diferem um do outro. É preciso, no entanto, considerar que apesar de ambos exercerem a premissa de democratizar informações de interesse público, somente o Jornalismo Científico tem a possibilidade de noticiar fatos relevantes sobre inovações, pesquisas e conceitos de ciência e tecnologia. A rigor, para que o Jornalismo Científico tenha sucesso no cumprimento da Divulgação Científica, deve necessariamente obedecer e seguir o padrão de produção jornalística. Mas nem toda a Divulgação Científica se confunde com Jornalismo Científico. Tendo como objetivo alcançar os próprios pesquisadores, cientistas e especialistas, determina-se a Disseminação Científica como uma outra modalidade de difusão de ciência e tecnologia.
“Um caso particular de divulgação científica e [que] refere-se a processos, estratégias, técnicas e mecanismos para veiculação de fatos que se situam no campo da ciência e da tecnologia. Desempenha funções econômicas, políticoideológicas e sócio-culturais importantes e viabiliza-se, na prática, através de um conjunto diversificado de gêneros jornalísticos”. (BUENO, 1984)
Portanto, o Jornalismo Científico, a Divulgação Científica e a Disseminação Científica são termos de diferentes conceitos que fazem parte de um amplo processo de difusão científica e que podem ser aproveitados pelo Jornalismo Colaborativo ao contribuir também com o processo de transformação social por meio da cultura científica, conforme pretendeu-se também abordar com o exemplo da reportagem “A Cura do Alcoolismo”.
Ademais, alguns dos conceitos que fazem parte da prática do Open Source Journalism (lê-se jornalismo em rede) como prática do jornalismo colaborativo, tem contribuído com a disseminação científica, oferecendo novos canais de leitura e comunicação, compartilhamento, discussão, análise de informações e dados entre fontes e pesquisadores. Sites com estas características como o Slashdot.org e o Reddit.com já se tornaram referência na internet. Prova disso, são os canais abertos sobre biotecnologia do Slashdot, ou mesmo o The New Reddit Journal of Science, com colaboradores de renome, como o cientista Stephen Hawking que em julho de 2015, respondeu às perguntas de outros usuários, por meio de um debate global chamado “Make Tech Human” sobre o rumos da tecnologia no mundo, em relação à vida e à sociedade, organizado pelas empresas de comunicação Nokia e Wired.
Abordagem para Notícias de Ciências
Buscar a relevância de pesquisas na aplicação de resultados para a sociedade, é papel do jornalismo científico. Dessa maneira, ao gerar hipóteses ou observar metodologias e materiais utilizados para um determinado estudo, em um ambiente de publicação colaborativa, a interferência no processo de pesquisa de um jornalista é fundamental. Neste sentido, o que se leva em consideração no processo de informação científica é a capacidade de entender e explicar os efeitos reais na sociedade, em relação aos resultados obtidos de uma determinada pesquisa. Ipso facto que interessam aos cientistas, os Artigos de Divulgação Científica (ADC) e aos jornalistas, as Matérias de Divulgação Científica (MDC).
Ao considerar a transposição de um material de conteúdo científico para ser publicado por meio do jornalismo colaborativo, o que é tido como mais relevante ou interessante vem no início, seguido pelas informações secundárias e detalhes, também inseridos por ordem decrescente de importância. Para notícias de ciências, GOMES (2000) identificou as aberturas alética, epistêmica e narrativizada que podem ser definidas com critérios específicos de produção textual. Em seu trabalho de Doutorado em Linguística, pela Universidade Federal de Pernambuco, Gomes (2003) destaca a construção da identidade da ciência no jornalismo indicando tipos de aberturas para estas publicações que permitem, por exemplo, alertar o leitor para um perigo iminente, que ou realçam o ineditismo de uma determinada técnica ou descoberta científica, como é o caso da [simple_tooltip content=’“Restam apenas 559 micos-leões-dourados (Leontopithecus rosalia) na natureza. Alarmante, o número resulta da mais rigorosa estimativa já feita sobre a população desses primatas, um dos mais amados e mais ameaçados da fauna brasileira. “A situação dos micos é gravíssima”, reconhece a bióloga Cecília Kierulff, autora do recenseamento, ao constatar que 269 deles vivem em áreas particulares, sem qualquer proteção onde nem o desmatamento nem a caça são fiscalizados, aumentando o risco de extinção da espécie.” (CARVALHO, Roberto. O mico-leão sobe a serra – Ciência Hoje, 99, pp.61-62 apud GOMES, 2000)’]”Abertura Alética“[/simple_tooltip].
Por outro lado, quando a intenção é indicar uma certa cautela dos jornalistas com relação à informação anunciada, Gomes (2000), classifica esta modalidade de [simple_tooltip content=’Pesquisas feitas por físicos do Laboratório de Óptica Não-linear da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) podem significar a entrada do Brasil num mercado dominado por um restrito número de empresas americanas, inglesas, e japonesas. Os protótipos de moduladores e amplificadores compatíveis com a tecnologia de fibras ópticas são a última palavra em telecomunicações e o seu repasse à iniciativa privada brasileira representa a participação do país no mercado, em plena expansão, das TVs a cabo, telefonia celular e redes locais de computadores. (COSTA, Jorge. Alta tecnologia em comunicações – Ciência Hoje,107, pp. 75-76 apud GOMES, 2000)’]“Abertura Epistêmica”[/simple_tooltip], que diz respeito à crença ou ao conhecimento do autor em relação às significações contidas em suas proposições.
Posto que os tipos de textos podem ser variados de acordo com o propósito editorial de um determinado veículo, seja ele impresso ou digital, pelo menos um traço se assemelha à estrutura da narrativa: o relato de fatos numa seqüência temporal. Para Tuija Virtanen, (2009) professora de linguística na Åbo Akademi University, Finlândia, a narrativa é um tipo básico de texto. Para Gomes (2000), talvez por isso, o ato de contar histórias seja uma das formas mais atraentes de seduzir o leitor. O poder de sedução da narrativa é, algumas vezes, explorado nas matérias de divulgação científica (MDC), por meio da [simple_tooltip content=’“Apesar de suas cores fortes e de seu comportamento ativo, uma aranha encontrada em grande número nas restingas da Barra de Maricá, no Rio de Janeiro, vinha passando despercebida aos olhos dos cientistas. Depois de capturada e estudada, pesquisadores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e do Museu Americano de História Natural anunciaram tratar-se de uma nova espécie. De corpo negro e patas vermelhas, a aranha caminha ativamente pelas areias brancas da restinga, o que lhe valeu o nome de Trachelopachys ammobates, que, em grego, quer dizer ‘andarilha da areia’. Ela tem cerca de dois centímetros (um centímetro de corpo), é diurna e não faz teias.” (MASSARANI, Luisa. Andarilha da areia – Ciência Hoje,125, p.75 apud GOMES, 2000)’]“Abertura Narrativizada”[/simple_tooltip].
A relação das técnicas demonstradas a partir da revista “Ciência Hoje”, podem ajudar a orientar o autor que utiliza o jornalismo colaborativo para disseminar informação científica. Tais indicações dos modelos de abordagem, ilustram a forma como uma determinada notícia pode se apresentar, seja sob o caráter de cultura científica ou de jornalismo científico.
No que tange as teorias de comunicação em massa, (DEFLEUR e BALL-ROKEACH, 1997, p.232) “se determinado padrão de comportamento é adotado como modelo, e se esse padrão é identificado como solucionador de problemas, compensador, ou de outra forma qualquer desejável por suas consequências, aumenta a probabilidade de ele ser adotado por um observador. Se sua adoção de fato resultar em consequências positivas, este modelo (hábito) em particular provavelmente persistirá como parte mais ou menos permanente do repertório do indivíduo.
Partindo desse pressuposto, com a criação da rede de Jornalismo Colaborativo, pretende-se estimular o processo de transformação social, por meio do incentivo à divulgação científica.
O Jornalismo Colaborativo como agente de transformação social
A Faculdade de Jornalismo Colaborativo em Washington, Estados Unidos
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