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Desencanto pelos partidos políticos

DESENCANTO PELOS PARTIDOS POLÍTICOS AFASTAM OS JOVENS DA POLÍTICA. ELES PREFEREM AS REDES SOCIAIS.

A pesquisa “Os jovens e o Consumo Sustentável”, realizada pelo Instituto Akatu, revela que 3% população são adolescentes entre 16 e 18 anos, apta a votar, mas apenas 1% são eleitores e preferem videogame às discussões sobre o rumo do País.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), afirma que 50% da população brasileira têm menos de 25 anos e representa 25% do eleitorado nacional.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revela que o índice de adolescentes de 16 e 17 anos que procuram os cartórios eleitorais para tirar o título de eleitor, oscilam desde que foi instituído o voto facultativo para essa faixa etária em 1989. Neste mesmo ano a participação de adolescentes com 16 anos no eleitorado foi de 1,8% do total da população brasileira eleitora. Caiu para 0,82% em 1994 e chegou a 0,54% em 1998.

A questão que se impõe é: como levar o eleitorado adolescente a iniciar um processo de participação nas discussões sobre os rumos da Sociedade Brasileira? A reconquista do encantamento com a política e com os partidos políticos, e a credibilidade no sistema político podem ser as respostas. Mas, sempre tem um mas.

A credibilidade não é facilmente conquistada. A política e os partidos políticos precisam demonstrar e cumprir compromissos estabelecidos. Enquanto esse processo não tem início, o sistema educacional, as lideranças civis e os movimentos sociais poderiam dar uma “mãozinha” e planejar apresentações sobre a seleção de candidatos que tenham tido uma atuação afirmativa, antes e durante o mandato. Daí, a necessidade de uma reflexão sobre as modalidades de participação, junto aos jovens eleitores.

Julian Borba, no artigo “Participação política: uma revisão dos modelos de classificação” (2012) refletindo sobre o tema indica as dimensões uni ou multidimensional dos atos participativos. A visão unidimensional significa “diferenciar os atos participativos entre um continuum onde os indivíduos exerceriam as diferentes modalidades em função de habilidades ou custos para a participação, ou percebê-los como constituídos por diferentes modalidades que possuem padrões de recrutamento, bases atitudinais e sociodemográficas distintas em termos dos seus participantes” (BRADY, 1999).

Milbrath (1965) elaborou uma tipologia de participação, que ocorreriam no seguinte continuum, em termos de custos e complexidade: “expor-se às solicitações políticas; votar; participar de uma discussão política; tentar convencer alguém a votar de determinado modo; usar um distintivo político; fazer contato com funcionários públicos; contribuir com dinheiro a um partido ou candidato; assistir a um comício ou assembleia; dedicar-se a uma campanha política; ser membro ativo de um partido político; participar de reuniões onde se tomam decisões políticas; solicitar contribuições em dinheiro para causas políticas; candidatar-se a um cargo eletivo; e ocupar cargos públicos”.

Para Milbrath, participar é um ato singular, mesmo que algumas de suas medidas empíricas demonstrem o baixo nível de relacionamento entre algumas das variáveis, em especial, entre o “voto” com as demais modalidades de participação. Neste sentido, “os cidadãos são divididos em três grupos, de acordo com o nível de engajamento. Teríamos os passivos (que não participam), os espectadores (envolvimento mínimo) e os “gladiadores” (ativistas). Tais níveis seriam cumulativos e formariam uma pirâmide, onde as atividades mais complexas seriam aquelas desenvolvidas pelos cidadãos mais centrais da estrutura social. Daí a formulação de Milbrath ser denominada de “modelo da centralidade” (MILBRATH, 1965).

Verba, Nie e Kim (1971), Verba e Nie (1972) e Verba, Nie e Kim (1978), ao invés do continuum, propõem que a participação política se estruture em quatro modalidades: voto, atividade de campanha, contato político e atividade cooperativa tal como se observa nas tabelas a seguir:

  • tab2
  • tab3

A proposta aqui não é uma discussão filosófica ou teórica sobre formas de participação política, mas levar os jovens a discutirem sobre elas e se permitirem avaliar qual delas poderá utilizar. Mesmo que as tipologias sejam reducionistas, a discussão sobre participar por meio do engajamento político, pelo voto e pela filiação partidária poderia gerar a possibilidade de outras atividades participativas e cidadãs.

Com certeza a ausência de uma educação política, reflexiva e crítica, podem levá-los – como levou – a utilizar os protestos políticos violentos como forma de participação política. Não que não sejam. “O projeto Political Action teve início em 1971, reunindo cientistas sociais em torno de um estudo que abrangeu a realidade de cinco países (Áustria, Inglaterra, Holanda, Estados Unidos e Alemanha Ocidental21). A obra, de 1979, apresenta os resultados de tal pesquisa. Para os nossos propósitos, interessa destacar a tipologia de participação política que é elaborada em tal estudo – e que passa a ser incorporada ao vocabulário dos estudos de participação, desde então, que é aquela divisão entre as “modalidades convencionais” e “não convencionais”.

O protesto, violento ou não, é uma participação política não convencional e suas atividades incluem atos de protesto. Estes protestos, “numa escala de complexidade (e custos), são: assinar um abaixo-assinado, participar de manifestações legais, participar de boicotes, recusar-se a pagar aluguel ou impostos, ocupar edifícios ou fábricas, bloquear o tráfego com demonstrações de rua, participar de greves23”. Os jovens precisam conhecer e compreender, para assumir uma delas.

A escala está apresentada no quadro abaixo:

tab4

A política brasileira e os partidos políticos que se comprometem com a sociedade civil, defendendo seus direitos, necessitam de jovens participativos com lucidez e cabe às comunidades locais a levarem seus jovens a serem participativos, seja utilizando as formas convencionais, as não convencionais e as não endereçadas ao governo, mas que são formas sociais de participação, por meio do trabalho voluntário.

Não se percebe nenhuma outra forma de resgatar de um lado a participação de uma parte significativa da população brasileira – os jovens – e de outro o fomento da do resgate da credibilidade dos partidos políticos.

As dimensões da participação política unidimensional resgatam o poder decisório sobre quem eleger e o compromisso de acompanhar o eleito em sua prestação de serviços durante o mandato.

E o jovem será levado a responder: Quero ser um gladiador ou um espectador?

É só o engajamento político do jovem que pode fazer a diferença: trazer de volta o encantamento pela política!

Fonte: Apud Borba, 2012

por Veriana Mosil

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