Não se sabe ao certo a origem do Tarô, cartas comuns na cartomância. Acreditam alguns que as cartas de jogo tenham nascido na China ou na Coréia por volta do século XI de nossa era, chegando à Europa nos séculos seguintes.
Ao usar o Tarô, o pretenso divinador consulta um baralho de 78 cartas, elaboradamente ilustradas, de grande popularidade e mistério. Não é simples interpretar as cartas, e aqueles que desejam apreciar a arte são aconselhados a meditar longamente sobre cada carta do baralho e sobre a multiplicidade de suas interrelações. De acordo com autoridades no assunto, esse estudo ajuda a construir uma ponte de intuição entre a mente inconsciente do leitor e o simbolismo das cartas.
Recentemente, vários pesquisadores tentaram fornecer uma etimologia para a palavra Tarô, examinando diversas línguas à procura de palavras chaves. Alguns alegaram que ela provinha do hindustani antigo taru (baralho de cartas), enquanto outros acharam que veio de tarotee – uma palavra francesa que se refere supostamente a um desenho no verso das cartas. Foi também proposto que o Tarô teria sido denominado segundo o nome do primeiro lugar em que se sabe ter aparecido – a região norte da Itália, próximo ao Rio Taro.
Quanto ao propósito original do Tarô, há evidências de que ele descende de um jogo de cartas medieval de instrução, totalmente mundano, que usava cartas com desenhos elaborados para treinar a memória. Alguns outros, propuseram que o Tarô teria se originado com os gnósticos, uma seita cristã herética que floresceu no século II, e virtualmente se extinguiu no século III.
Tomados em sequência, os Arcanos Maiores do Tarô têm sido interpretados como sendo uma representação dos princípios maiores do gnosticismo, começando com a carta do Bobo como um símbolo da ignorância dos homens a respeito do poder divino que existe em seu interior, e terminando com a ascensão espiritual aos céus na carta do Mundo.
Quaisquer que sejam suas origens, no entanto, as cartas do Tarô incorporam imagens que tiveram resonância através dos tempos; idéias cristãs, islâmicas, escandinavas e célticas podem ser encontradas nelas. A carta do Julgamento, por exemplo, sugere o apocalipse bíblico, enquanto a carta da Torre Atingida por um Raio pode ser vista como uma reminiscência do martelo de Thor, o deus escandinavo do trovão. De fato, tal é universalidade dos símbolos, que os praticantes parecem sempre capazes de achar neles o que quer que queiram ver.
Em 1856, o francês Éliphas Lévi escreveu um trabalho no qual associou cada um dos quatro naipes do Tarô às quatro letras em YHVH, o nome impronunciável de Deus no Antigo Testamento. Combinando esse sistema com um pouco de numerologia, ele retirou um significado adicional do fato de que são 22 as cartas dos Arcanos Maiores do Tarô, como são 22 as letras no alfabeto hebráico.
A influência de Levi também se disseminou pela Inglaterra. Em Londres, em 1888, S.L. MacGregor Mathers fundou uma sociedade ocultista chamada Ordem Hermética da Aurora Dourada, que, entre vários membros, incluia o poeta W.B. Yeats e o escritor Bram Stoker – que alcançaria a imortalidade com seu romance gótico Drácula.
A Aurora Dourada desenvolveu as teorias de Levi num sistema abrangente, que estudava e ensinava o Tarô como uma parte integral de várias outras práticas ocultistas – tais como magia ritual, alquimía e numerologia. Mathers presidiu a sociedade até ser expulso em 1900 por sua liderança autoritária.
Pelo menos um membro da Aurora Dourada, um historiador do ocultismo chamado Arthur Edward Waite, era mais realista que seus colegas, descartando a maioria das reflexões sobre as origens misteriosas do Tarô como pura fantasia. “O ponto central relativo à históriadas cartas do Tarô”, ele escreveu, “é que tal história não existe”.
O mais controvertido membro da Ordem Hermética da Aurora Dourada era, de longe, o irreprimível Aleister Crowley, um praticante da demonologia, bem como de vários tipos de magia ritual. Crowley nasceu na Inglaterra em 1875, em uma família extremamente religiosa e severa. Quando criança, rebelou-se contra o cristianismo de seus pais, aceitando com avidez a acusação perturbada de sua mãe de que ele era a Grande Besta, o anticristo predito no livro da Revelação sob o número 666. Aleister Crowley declarou uma guerra pessoal contra o cristianismo, e insistia em que tal fora sua verdadeira missão em várias encarnações.
Em 1944, três anos antes de sua morte, Crowley publicou um guia de suas teorias místicas sobre o Tarô, numa pequena edição de um trabalho de um trabalho chamado O Livro do Thoth, onde ele enfatizava o imaginário erótico dos Arcanos Maiores. Não era uma interpretação inteiramente nova, mas ninguém antes dele atinha sido tão explícito. Outros ocultistas haviam considerado como símbolos sexuais masculinos a espada e a balança, que a mulher na carta da Justiça tem em suas mãos. Crowley porém, sempre atento às conotações eróticas, renomeou a carta, chamando-a “Mulher Satisfeita”.
Finalmente, no complexo, controvertido e obscuro Tarô, as certezas são ilusórias. Contudo, os crentes geralmente admitem que as cartas têm um significado dual: elas são ao mesmo tempo místicas e divinatórias.