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Ainda estou aqui

Ainda estou aqui

O merecido sucesso de “Ainda estou aqui” me fez lembrar o caso de Hiram de Lima Pereira, outro cidadão que desapareceu após participar de um jantar na casa de uma das filhas em São Paulo, ao qual compareci, no dia 31 de dezembro de 1975. Além de líder comunista, Hiram tinha sido também secretário de Miguel Arraes de Alencar e diretor do jornal clandestino Folha do Povo.

Sua casa, na rua Imperial, era parecida com a de Rubem Paiva, sempre cheia de moças e rapazes que cantavam e brincavam alegremente. Ele tinha três lindas filhas, duas formadas em Administração pela Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro – e portanto avançadinhas para um Recife retrógrado – e a mais jovem, com cerca de 15 anos, estudava balé no teatro Santa Isabel.

Quando possível, eu a levava aos ensaios, supostamente para protegê-la dos maus elementos, mas na verdade de olho nos ensaios.

A alegria caracterizava os encontros, tudo sob o olhar cuidadoso de Hiram e sua mulher, a também atriz Célia Pereira. O próprio Hiram era também ator, tendo atuado como padre numa peça de Ariano Suassuna.

Daí, quiçá, sua facilidade em driblar a polícia, que o caçava insistentemente. Até aquela madrugada em que tentou voltar sozinho pela Via Dutra, dirigindo seu Wemag. Nunca mais se teve notícia dele.

Um dos seus filhos, Marcelo Rubens Paiva, que se tornou escritor e dramaturgo, conta com riqueza de detalhes como era a vida da família antes e depois de seu sumiço. A família só conseguiu atestado de óbito 25 anos depois.

Além da brilhante atuação de Fernanda Torres, sua mãe Fernanda Montenegro encerra a história aparecendo com o Alzheimer que perseguiu a personagem. As cenas são emocionantes.

Não à toa Walter Moreira Salles vem se consagrando como cineasta de grandes qualidades, tanto pela escolha dos temas abordados como pelo modo de enquadramento e demais técnicas, consagradas pela originalidade. A ditadura cerceou as liberdades democráticas no Brasil contém incontáveis histórias que podem render muitos filmes. Como se sabe, Rubens Paiva não foi o único perseguido político que sumiu.

A história de Hiram de Lima Pereira, por exemplo, também daria um ótimo filme.

Quem tiver interesse é só pesquisar.

Jornalista profissional desde 1962, quando começou na Última Hora, Recife. Seu último emprego foi como assessor de imprensa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, onde ficou 21 anos. Antes, trabalhou em duas outras assessorias de imprensa: Siemens e Unibanco. Já havia passado por diferentes experiências como repórter e redator na Editora Abril, O Estado de S. Paulo, Diário do Grande ABC, A Gazeta e Diário do Comércio e Indústria. Escreveu três livros: "Pois não, Doutor". sobre o HC; "Viver Tem Remédio", crônicas, e "As Boas Lembranças da Luta", em que repassa acontecimentos ligados a efêmeras atividades políticas. Foi casado durante 10 anos, tem dois filhos e seis netos.

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