No último dia 14 deste mês, Isabel Clark conquistou a sua terceira medalha de ouro no XIX Campeonato Brasileiro Oppa de Snowboard e a segunda na Copa Sul-americana. O Temporada de Inverno entrevistou com exclusividade a principal representante do Brasil nas competições de inverno realizadas no mundo todo. Considerada pela Confederação Brasileira de Desportos da Neve, como a melhor atleta de snowboard do Brasil, Isabel Clark Heliski Andes, começou a praticar o esporte profissionalmente em 1995, quando já conquistou o primeiro de seus 17 títulos nacionais do esporte.
Para Stefano Arnhold, presidente da CBDN, a carioca também bateu o recorde de participação em finais da Copa do Mundo e obteve o maior número de pontos acumulados. Feitos jamais obtidos por outra atleta sul-americana no Snowboard.
Experiente e com diversos títulos, especialmente nas modalidades de Snowboardcross, Isabel Clark está cada vez mais preparada para os Jogos Olímpicos de Inverno. Conheça um pouco mais da nossa atleta recordista, porta-bandeira da comitiva brasileira e campeã de snowboard.
TI – Recentemente você superou a norte-americana Karen Kobayashi e a canadense Tayler Wilton, ao vencer a Copa Continental de snowboard. Como foi essa a disputa? Também em Valle Nevado, você conquistou o Brasileiro de snowboard cross. A que você atribui mais esta vitória?
IC – Elas surpreenderam, pois são super novas e tiveram ótimas performances. Na primeira competição, tive o melhor tempo da qualificação, mas bem perto da americana. E na segunda competição, a americana fez o melhor tempo e eu o segundo tempo. Sabia que não ia ser fácil nos hits, mas tive uma boa largada, o que me facilitou a vida para o resto da pista.
TI – A confirmação do seu favoritismo sinaliza que tem se dedicado seriamente na preparação para as próximas competições. Como tem sido o seu treinamento?
IC – Estou mais focada do que nunca. O treino tem sido bem intenso nos últimos anos, basicamente são 11 meses por ano que intercalamos treino físico com treino técnico.
TI – Iván Fuenzalida Sáez é treinador da maior equipe brasileira de snowboard e também seu técnico. Qual a recomendação mais importante que você já recebeu dele?
IC – Muitas coisas, mas uma de suas recomendações mais importantes foi aprender a praticar a técnica progressivamente. Com tempo pude ter uma evolução continua e sólida.
IC – Sempre sigo as recomendações do meu nutrologo, mas às vezes fica difícil de seguir ao pé da letra, pois viajo muito, e ficamos muito tempo em hotéis. Quando temos acesso a uma cozinha gosto sim de cozinhar, mas ao mesmo tempo é preciso de ter tempo, então no final das contas é melhor estar em um hotel, onde posso usar o meu tempo na preparação física, e não cozinhando.
TI – Atletas que vencem campeonato e se destacam nas competições, recebem Bolsa Atleta ou Bolsa Olímpica? O que você acha que pode melhorar nesses programas?
IC – É uma bom programa, pois ajuda e motiva muito o atleta, e em conseqüência, o esporte. Poderia melhorar algumas regras que não tem ajudado alguns dos melhores atletas que temos na Confederação. Na categoria internacional, é preciso ter mais de 5 países sul americanos competindo, mas é quase impossível ter 5 países sulamericanos competindo, geralmente são só 3: Brasil, Chile e argentina. Às vezes aparece um peruano… Então acho que poderia ser pelo numero de participantes independente da nacionalidade.
TI – Tem algum patrocinador? Quem mais apóia e contribui para você ter o suporte e infra-estrutura necessários e continuar colecionando medalhas?
IC –Estou com um patrocínio bem legal, a SnowOnline, que tem tudo a ver, pois ajudo a promover viagens de brasileiros para a neve. Eles estão me dando um suporte financeiro e também me ajudaram a montar meu novo site, assim com a fanpage. Também tenho patrocínio da Rossignol Sbowboards, apoio de Valle Nevado, da Clinica Metsavaht, e do restaurante Clodet. O maior suporte que tenho e que mais contribuiu para a infraestrutura, é a CBDN.
TI – Você já participou de competições no Chile, Estados Unidos, Canadá, França e Itália. Na sua opinião, onde foi a mais importante e por quê?
IC –Todas as Copas do Mundo e campeonatos Mundiais são muito importantes independente do país. São as competições com as pistas mais bem feitas e maiores, onde se assemelha mais a uma pista de Jogos Olímpicos.
TI – Qual a diferença entre as provas das temporadas de inverno do Hemisfério Sul e Norte?
IC – Nos últimos anos não tivemos etapas da Copa do Mundo no hemisfério sul, mas durante vários anos tinha pelo menos 1 etapa. Em geral, no hemisfério Sul, temos mais tempo para treinos técnicos na neve, o que é muito bom, pois no hemisfério norte tem muitas etapas das copa do mundo e o treino fica bem reduzido, a aproximadamente 3 a 4 semanas.
TI – Qual manobra você considera mais importante? Costuma inovar e arriscar nos movimentos mais radicais?
IC –Na minha disciplina (Snowboardcross), não fazemos manobras nem acrobacias, é uma modalidade de velocidade com saltos e obstáculos, tipo bicicross. É por tempo e não tem juiz que dá nota. Somente nas modalidades de Freestyle, como o Slopestyle e o HalfPipe.
TI – Como é representar nosso país em um esporte tão competitivo lá fora?
IC – Estou há tantos anos competindo no circuito, sou uma das atletas mais antigas. Estou acostumada e todos me conhecem, até porque tem esse lado exótico de ser Brasileira, competindo na neve. Algumas vezes me vejo dando recomendações a alguma atleta nova no circuito, de um pais tradicional na neve…
TI – Quando em 1995, venceu pela primeira vez o campeonato de snowboard, pensou que algum dia teria seu reconhecimento simbolizado como porta-bandeira da Delegação Brasileira dos Jogos Olímpicos de Inverno?
IC –De jeito nenhum, nem pensava em Olímpiada, só pensava em snowboard, queria fazer de tudo para poder estar com a prancha no pé. As circunstancias e minha personalidade me foram levando nesse caminho.