Ser professor no Brasil nunca foi fácil. É uma profissão em que a maioria não é valorizada e não possui condições e salários adequados. Ainda mais quando entra em questão o fato de o professor ser negro. Em diversas manifestações pelos direitos dos professores, a questão racial é uma das mais tratadas. Eles continuam sofrendo preconceitos não apenas no mercado de trabalho como também na sala de aula.
A escolha de um professor afrodescendente no País nunca foi preferência na hora de contratar. Segundo pesquisa realizada pelo professor da UnB (Universidade de Brasília) José Jorge de Carvalho e divulgada pelo site Universia Brasil em 2005, menos de 1% dos educadores nas universidades públicas brasileiras eram negros. Na USP (Universidade de São Paulo), a maior do Brasil, o número de professores negros não batia a margem de 0,2%
Segundo o pesquisador, em matéria publicada no portal, a sociedade brasileira se adaptou com o princípio da exclusão racial, como uma reflexão, por exemplo, no sistema de cotas nas universidades. As vagas reservadas para os alunos negros ou índios no ensino superior público, em vezes, são refletidas na escolha de um professor negro.
“Em muitos lugares, sendo em uma escola ou em uma empresa, onde se pode colocar um branco não se coloca um negro”, destaca o professor Benedito Carlos Santos, que é negro. Ele trabalha em uma escola particular de classe média em São Paulo e já lecionou em instituições públicas.
Porém, Santos aponta que o número de negros com formação superior no Brasil está aumentando e que essa barreira tende a se romper. “A tendência é que haja cada vez mais negros na área da educação, principalmente em ensino privatizado. Há uma necessidade de absorver essa mão-de-obra”, argumenta.
Convivência na classe
Entretanto, a questão do racismo não se limita apenas ao mercado de trabalho e ultrapassa a relação aluno e professor. Casos de estudantes desrespeitando seus mentores por causa da cor de sua pele continuam sendo frequentes, tanto no ensino público quanto no particular.
“O preconceito é mais manifestado em escolas estaduais do que privadas”, disse também o professor Santos. “O racismo contra professores negros também é presente em escolas privadas, mas costuma ser menos expressivo”, afirma.
Como ele mesmo destaca com ironia, o aluno de escola particular se espanta ao avistar um funcionário negro nos corredores que não seja faxineiro. O próprio professor relata que já sofreu insultos racistas enquanto trabalhava em um supletivo na capital. “Já recebi alguns bilhetes dos alunos com xingamentos preconceituosos pelo fato de eu ser negro”, aponta.