Poder ir a um restaurante ou mesmo em um jantar com amigos, tomar um bom vinho ou apreciar o sabor de um licor, deveria ser algo absolutamente normal para as pessoas. Mas nem todo mundo está preparado para uma ocasião dessas, sem antes saber respeitar seus próprios limites.
Um trabalho, baseado em 40 anos de pesquisa, pretende resolver esse problema. Por meio de extinção farmacológica, ou Método Sinclair, como é conhecido, foi possível decifrar o enigma da dependência subjacente exatamente onde ela começa: profundamente dentro da fisiologia e bioquímica do cérebro.
Considerado eficaz para a terrível aflição de quem atravessa algum problema ligado ao vício do álcool e outras drogas de efeitos psicotrópicos, o método foi criado por John David Sinclair, PhD, falecido no início deste ano. Médico e psicólogo, desde 1972, Sinclair foi também pesquisador sênior do Departamento de Saúde Mental e Pesquisas do Álcool do Instituto Nacional de Saúde Pública da Finlândia.
O novo tratamento muda todos os passos da terapia convencional e pode ajudar qualquer pessoa que precisa controlar o seu beber, mesmo quem não seja alcoólico. A grande surpresa é não haver a necessidade de internação para poder iniciar todo o processo. E mais, não há privação de álcool. O paciente continua bebendo normalmente, no entanto, a sua compulsão vai diminuindo e assim a dependência também diminui gradual e seguramente. Além disso, o método não estabelece qualquer detenção, assim como não são administrados Dissulfiram, nem drogas viciantes ou perigosas.
"Ninguém deve ser estigmatizado, quanto menos discriminado. A dignidade precisa ser preservada sem o efeito da porta giratória.
Dr. David Sinclair
PhD
TRATADO DE PESQUISA VIRA LIVRO
Outro pesquisador sobre o assunto, é o Dr. Roy Eskapa, PhD, especialista em psicologia forense, terapia multimodal e medicina da dependência. Best-seller nos Estados Unidos, ele é o autor do livro “The Cure for the Alcoholism”, traduzido em português por Gyorgy Troyko e publicado no Brasil pela GT Editora. Em formato exclusivamente digital, o título “Alcoolismo: A Cura” ainda não foi lançado oficialmente na mídia, estando à venda somente no site da Amazon. Talvez por isso, poucas pessoas conheçam o resultado desse trabalho dedicado à todos aqueles que sofrem direta ou indiretamente, os efeitos do álcool.
Ivan Pavlov, o fisiologista russo e ganhador do Prêmio Nobel, que descreveu como o aprendizado e a extinção ocorrem, foi um dos cientistas que contribuiram com a pesquisa do autor. Embora, David Sinclair foi o primeiro a demonstrar como os compostos revertem a dependência do álcool no cérebro. Afinal, com o isolamento dos primeiros medicamentos antagonistas opióides, a descoberta levou a uma cura comprovada, econômica e digna do alcoolismo – sem abstinência ou sintomas desagradáveis e perigosos da remoção.
Se este método de tratar o alcoolismo realmente preencher o seu potencial, médicos e pacientes poderão saber a respeito dele e entendê-lo. A cura do alcoolismo deverá também reduzir o problema no qual, atualmente, apenas uma pequena parte das pessoas que precisam de ajuda procuram tratamento de fato.
UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL
Nos Estados Unidos, o tratamento foi comprovado por mais de 70 testes clínicos publicados.
Pela primeira vez na história, a cura da dependência do álcool é uma realidade possível. Dezenas de testes clínicos provam que o Método Sinclair é eficaz. As taxas de sucesso nas clínicas são de 78% ou maiores, em contraste com os métodos correntes de reabilitação que oferecem taxas de sucesso de 10% a 15%, conforme o Instituto Nacional sobre Abuso de Álcool e Alcoolismo nos EUA (NIAAA) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O tratamento é comprovado por mais de 70 testes clínicos publicados. Os primeiros testes usando Naltrexona para o alcoolismo, realizados na Universidade de Pennsylvania e em Yale, incluíram extenso aconselhamento; consequentemente, quando o FDA (Federal Drug Administration) aprovou o uso de Naltrexona em 1994, foi estipulado que o remédio seria usado como parte de um programa compreensivo de tratamento do alcoolismo.
Em maio de 2006, o Jornal da Associação Médica Americana, publicou os resultados do projeto COMBINE com 1.383 pacientes, caracterizando como o maior teste na história da dependência do álcool. Os resultados novamente mostraram que a Naltrexona era segura e efetiva, mas eles também identificaram que o extenso aconselhamento não era necessário.
Como resultado desse estudo, a Naltrexona não é mais somente para grandes clínicas especializadas em problemas com o álcool, agora, qualquer médico pode, segura e eticamente, prescrever a Naltrexona para o beber problemático. “Os testes clínicos mostraram claramente que a Naltrexona somente funciona quando ela é usada em um modo particular, e não é do modo que a maioria dos doutores intuitivamente a usaria. Se você quer que os pacientes parem de beber, você diz a eles “Não bebam”, você dá a eles tanto suporte quanto possível para manterem a abstinência, e então você diz a eles que tomem o remédio.”, afirma o Dr. Roy Eskapa.
De acordo com o trabalho do cientista, a cura requer uma compreensão básica de três conceitos-chave descobertos por David Sinclair que ajudam a entender as complexidades e as sutilezas desse tratamento: “O efeito de privação do álcool que explica como a abstinência leva a um aumento progressivo da compulsão e eventualmente a uma recaída num beber excessivo e porque a dependência nunca foi curável antes. A extinção farmacológica, que é justamente o Método comprovado de Sinclair para remoção efetiva da dependência e o aprendizado farmacologicamente aumentado. Para reforço de comportamentos alternativos saudáveis.”
É importante enfatizar que a droga testada por Sinclair, a Naltrexona, ainda é hoje erroneamente prescrita para ser tomada em abstinência, à ser absolutamente mantida, ou seja, em lugar do álcool. Sinclair provou por experimentos extensos, que a Naltrexona só funciona como redutora da vontade de beber álcool se for ingerida junto com ele.
Responsável por outras pesquisas, como o tratamento da enurese infantil, enquanto trabalhava com experiências de extinção farmacológica nas causas e soluções para o alcoolismo, o Dr. Roy Eskapa ressalta: “Naltrexona sem álcool não faz efeito nenhum sobre os receptores do cérebro. É o mesmo que ingerir placebo e ainda piora o estado do paciente.”
O efeito de retirada do álcool, também descoberto e testado por Sinclair, mostra que após um período de abstinência, o retorno ao álcool — inevitável para mais de 90% dos alcoólicos — ocorre de forma muito maior do que era antes, demorando muito para voltar ao consumo habitual.
Pesquisas como abardamos nessa reportagem, poderão enraivecer a indústria de reabilitação de 6.2 bilhões de dólares e todas aquelas pessoas que são, em princípio, contrárias à medicação porque são ideologicamente casadas com uma filosofia de abstinência. Apesar da Finlândia estar usando o Método para tratar com sucesso cerca de 70 mil pacientes, o tratamento permanece largamente desconhecido nos Estados Unidos, em grande parte da Europa e no Japão. A cura do alcoolismo pretende mudar isto e, acima de tudo, salvar vidas.