A crise no abastecimento de água brasileira, que atinge mais dramaticamente a região Sudeste, com maior intensidade no estado de São Paulo, é um problema complexo, que envolve diversos setores e não deveria ser creditado somente à estiagem.
O modelo de gestão governamental, no Brasil, deixa a cargo dos estados o abastecimento de água. São as federações as responsáveis por gerenciar o processo, ao mesmo tempo em que realiza todas as operações e fiscaliza. Ou seja, o poder público atua ao mesmo tempo em que fiscaliza a si próprio.
Na Alemanha, os recursos hídricos da bacia do Ruhr, a principal do país, são compartilhados com a iniciativa privada, enquanto os órgãos do governo limitam-se a fiscalizar, sem interferir na parte operacional. Trata-se de uma maneira de garantir a competitividade no setor, ao mesmo tempo em que é prestado um serviço público, de forma a aumentar a transparência e a eficiência dos mecanismos de controle.
Um dos pontos cruciais e que demandarão grande esforço para a solução da crise é minimizar o desperdício ao longo da rede de escoamento. No Brasil, as perdas por problemas nas tubulações estão em cerca de 30%, já na Alemanha elas ficam no patamar de 10%. Uma diferença que evidencia o quanto uma gestão profissional e focada em resultados pode tornar o gerenciamento de um recurso público seguro, eficaz e à prova de falhas.
Defensores do modelo brasileiro alegam que a entrada da iniciativa privada no assunto poderia gerar conflito de interesses, já que as empresas particulares visam o lucro. Isso poderia, em tese, impedir que áreas pobres recebam o benefício da água encanada, já que não poderiam pagar pelo serviço.
Interferência política, uma barreira a se superar
O engenheiro Gelma Reis, da Ética Ambiental, empresa de consultoria ambiental e tratamento de efluentes, entende que o Brasil tem todos os recursos, tanto materiais quanto humanos, para realizar a gestão dos recursos hídricos “nós temos a maior bacia hidrográfica do mundo, mas sofremos com a falta de abastecimento por diversos entraves, principalmente políticos. Temos pessoal preparado, mas eles esbarram em interesses de ordem política que comprometem a eficiência do setor e prejudicam a população”.
Profissionais especializados em alta
A proporção da crise hídrica, por outro lado, vem aquecendo a demanda por profissionais de engenharia especializados. Segundo Donato Mingarelli, da Cezanne, que desenvolve software de gestão de recursos humanos, é perceptível que as empresas têm cada vez mais disputado esses especialistas “estamos num momento em que o setor de empresas ligadas à engenharia vem aumentando a procura por engenheiros com formação focada em recursos hídricos. Em algumas delas, inclusive, estão sendo admitidos engenheiros sem especialização, que recebem todo o treinamento e formação nas próprias empresas”.