Nota do Editor
- Há 20 anos trabalhando como agente funerário, este violinista e regente de música erudita é também um agente da transformação social.
Isaías Hilário, ou “Mestre Zazá” é o retrato emblemático de um povo aguerrido, criativo e empreendedor.
O brasileiro, pai de família, trabalhador incansável e personagem que você está prestes a conhecer, divide sua carreira de regente musical com a de agente funerário em São José dos Campos, no interior de São Paulo. Sua inspiração: Os jovens talentos da Orquestra Splendor.
Para ele, o dia começa realmente cedo. São 03:30 da madrugada, quando Isaías Hilário está pronto para atender mais um chamado. Ainda nem amanhaceu e as luzes de emergência se misturam com uma fatídica cena de óbito.
“São ocorrências cotidianas de situações dramáticas que buscamos sempre fazer o melhor trabalho”, explica.
Por mais dolorosas e muitas vezes violentas possam ser as imagens do seu dia-a-dia, o profissional que exerce a atividade de agente funerário da URBAM, segue regras e normas de conduta para lidar com todos os tipos de caso, sejam eles de morte natural, acidental ou intencional.
Do tétrico ao maestro
Quando chega o fim do expediente, Hilário, como é conhecido entre seus colegas de serviço, deixa seu uniforme e veste a capa do maestro Zazá. Chegou a hora de conferir em sua agenda qual será o primeiro aluno de sua segunda jornada de trabalho.
Sempre espirituoso, com um inabalável bom humor, Zazá não se cansa. “Poder encontrar com meus alunos e observar o progresso de cada um deles é tão gratificante que esqueço até da fadiga ou de como foi pesado o dia.”
Suas aulas particulares o ajudam, portanto, a superar os desafios de sobreviver em um país, onde os incentivos culturais ainda não correspondem às prioridades do Governo.
Em 2004, Isaías fundou a Orquestra Splendor. Composta por músicos e alguns alunos talentosos, o grupo de música clássica erudita, já particiou de várias apresentações no estado. Em 2025, o Mestre Zazá pretende levar seus alunos em Campos do Jordão para tocarem no aclamado Festival de Inverno que ocorre todos os anos na cidade.
Mas é entre São José dos Campos, Jacareí, Mogi das Cruses, Taubaté e Caçapava que este artista e trabalhador brasileiro tem se tornado agente da transformação social. Sim! Afinal, para cada nota que um aluno consegue aplicar em seus estudos de teoria e prática musical, Mestre Zazá faz uma mãe chorar.
“As lágrimas de felicidade que vejo nos pais dos meus alunos são como gotas de luz que acalmam minha alma depois de um dia escuro de trabalho”, desabafa.
Todos os meses, o Maestro e sua orquestra fazem apresentações em escolas da rede municipal, associações culturais e ocasionalmente em eventos especiais como, casamentos, aniversários, vernissages, tardes e noite de autógrafos.
“Quando recebemos a informação de que teremos uma apresentação cultural desse nível em nosso prédio, o salão fica cheio e o ambiente muito mais agradável”, revela Patricia Silva, moradora que faz questão de acompanhar este projeto que também é realizado em condomínios residenciais.
Para o Mestre Zazá, o que falta para grande parte do povo brasileiro é um direcionamento adequado às manifestações culturais. Segundo ele, é comum ver projetos como o da Orquestra Splendor serem ignorados ou desvalorizados face ao interesse maior da população por aquilo que é constantemente bombardeado pela mídia e que na realidade não representa desenvolvimento cultural.
“Tanto os governantes, quanto a mídia deveriam observar melhor os nossos jovens no sentido de validarem o que é de fato importante para a educação de um povo. Entendo que tocar um instrumento de música clássica, por exemplo, é um deles.”
Isaías Hilário, tem 45 anos é brasileiro afrodescendente, casado, com filhos e mais do que artista e agente funerário, ele é um Agente da Transformação Social.
Parabéns, Mestre! E que muitos brasileiros possam seguir seu exemplo.