Pleito após pleito, as promessas eleitorais centram-se em as expressões “mudança” e “trabalho”, principalmente no que diz respeito aos serviços públicos estratégicos tais como saúde, segurança pública e educação. Farei uma breve análise da principal contradição das políticas voltadas para educação no nosso país: querer resultados qualitativos com limitações sufocantemente quantitativas.
Tente recordar-se das propagandas eleitorais; certamente você vai ver imagens de números e de estatísticas seguidas uma concepção que muitas vezes não corresponde com a realidade. Certamente você pode pensar em milhares e milhares de cifras. Será que podemos ver para além desses números?
Os números parecem ser absolutos, mas não são. É necessário avaliar cada coisa com sua devida relevância. O que vale mais, um milhão de pedras de carvão ou meia dúzia de diamantes? Podemos muito bem falar dos carvões e ignorar a importância dos diamantes. Normalmente é isso que acontece. Como?
Para facilitar vou citar um fato específico. O Brasil teve um grande avanço no tocante à política de implantação de cotas, no entanto, da forma com que foi implantada gerou um discurso quantitativista, o qual poderá render uma boa propaganda: “Atualmente 50% das vagas das instituições federais são destinadas a alunos de escola pública.” Será que isso é democratizar a educação? Ou seria massificar a educação? Incluir o aluno na matrícula para excluí-lo do processo educativo? O Estado não ofereceu uma contrapartida para trabalhar com esse público que aumentou, sobretudo em relação aos professores, cuja formação não foi fomentada e nem houve sequer um incremento quantitativo para dar conta dessa complexidade que aumentou qualitativamente e quantitativamente.
Somos reféns dos números. Isso ocorre porque boa parte da nossa percepção é superficial. Muitos de nós conseguimos avaliar apenas o aspecto quantitativo porque ele traz um pensamento aparentemente acabado. Dizer que o acesso à educação foi ampliada em 20% não quer dizer necessariamente que a educação melhorou 20%. No entanto, o discurso numérico tenta deixar uma resposta “pronta” para criar um discurso geralmente político-partidário, diferentemente do argumento qualitativo que é mais difícil de ser explicado e abre margem para discussão.
É comum entre os docentes haver certa repulsa quanto às teorias pedagógicas. Uma explicação possível talvez esteja no fato destas tratarem de aspectos qualitativos, assim os sistemas de ensino cobram resultados qualitativos dos professores e ao mesmo tempo são impostas dificuldades quantitativas que também são qualitativas: excesso de aulas, turmas e alunos. Além do que, o reconhecimento profissional qualitativo (reconhecimento social) e quantitativo (remuneração adequada) não são de interesse dos representantes políticos, pelo menos parecem não fazer questão de divulgar, muito menos resolver.
Até quando vamos ficar nessa incoerência de querer produzir diamantes escovando carvão? É até possível transformar o carbono em diamante, mas com um empenho e recursos qualitativos consolidados com pesquisas. Isso é possível desde que haja um esforço muito grande. Todavia, essa responsabilidade não deve estar associada apenas ao professor uma vez que suas condições são quantitativamente limitadas, situação que não aparecem em nenhum discurso do Governo.
Por essa razão, é necessário que os cidadãos estejam cada vez mais preparados para fazer uma avaliação qualitativa da realidade. Do contrário, continuaremos reféns do “quantitativismo”. É preciso ter coerência e consonância no processo e no resultado, de modo a buscar o equilíbrio da qualidade e do número. Para isso, é preciso que toda a sociedade tenha um entendimento qualitativo do problema, afinal, torna-se necessário incluir qualidade aos números para garimparmos e transformarmos a educação em diamante.
Por Roniel Sampaio Silva