Ao reler o best-seller ‘Microtendências’ de Mark J. Penn, constatei que a base dos estudos deste livro contradiz a previsão de total extinção do livre-arbítrio da sociedade massificada, descrita pela ficção científica de Aldous Huxley, “Admirável Mundo Novo” lá em 1932. De acordo com a versão de Penn, os pequenos grupos de cidadãos tornaram-se poderosos e estão mudando a face da sociedade. “Pensávamos que, à medida que a sociedade de massas aumentasse, seríamos padronizados em rosto e cor. Porém, o que vimos foi que mais individualista ela se tornou”, sentenciou Penn, durante visita ao Brasil, em 2008.
As microtendências de Penn apontam para o crescente poder de nichos de consumidores e o fim das megatendências, da massificação de comportamentos e hábitos de consumo, o que muda a face da sociedade, influenciando o mundo dos negócios. “As pequenas forças por trás das grandes mudanças de amanhã”, segundo o autor do livro e especialista em pesquisas de opinião política dos Estados Unidos, são originadas pelo surgimento de pequenos grupos sociais que se unem por interesses comuns.
Acredito que os conceitos e pesquisas apresentados por Penn descrevem nossa atual composição social, ou seja, vivemos em uma sociedade segmentada por afinidades. Basta observarmos a internet. Os vários sites disponíveis são verdadeiros “clubes de relacionamento”. Nichos homogêneos que oferecem serviços àqueles que têm afinidade com determinados grupos. Neles, os “segmentos” se identificam e muitas vezes expressam microtendências de comportamentos e necessidades, que, certamente, originam transformações econômicas, políticas e sociais. E como as empresas podem participar desse real admirável mundo novo? Acredito que só há um caminho: fazer a leitura das microtendências que estão ao redor e chegar à frente. Elas, com certeza, sinalizam o caminho da inclusão. No entanto, é importante lembrar que o poder de transformação de algumas empresas levou várias ao sucesso e outras à exclusão.
Para aproveitar as oportunidades apontadas, é preciso percebê-las e avaliar os potenciais, o que exige tempo para pensar. Neste caso, a ação deve ser substituída pela reflexão. É preciso parar, dedicar um tempo para observar o que acontece ao entorno, pois não há nada melhor para prever o futuro do que entender o presente. Seria importante que empresários e executivos dedicassem mais tempo para “pensar o mundo”, ou seja, ficar atentos para praticar a observação tranquila e criteriosa de comportamentos e necessidades dos diferentes nichos da sociedade e de seus possíveis reflexos futuros. Essa reflexão deve ser estimulada em toda a equipe de profissionais, sem hierarquia, por meio de um processo plural e democrático que envolva todos os funcionários, independente de cargos e funções. Por que não dedicar alguns minutos por dia para que cada um pense sobre uma microtendência percebida no caminho para o trabalho, na família, entre os amigos, nos livros, na imprensa, etc.? Por que não conversar sobre essas percepções durante uma reunião mensal, discutindo o impacto para os negócios e como a empresa pode antecipar-se às consequências? Ao adotarmos essa nova forma de analisar as mudanças de mercado, sem dúvida, estaremos nos tornando menos tecnicistas e mais humanos.
Ao substituirmos a rapidez desmedida e a reação pela ação, baseada na observação do mundo em que vivemos, seremos mais proativos e nos afastaremos de previsões sombrias, como a de Aldous Huxley e a do psicanalista alemão Erich Fromm, para quem “o perigo do passado era que os homens se tornassem escravos; o perigo do futuro é que os homens se tornem autômatos”.
Até a próxima Carta do Mês!
Denis Mello
Diretor-presidente