A nova geração de jovens que acompanham o esporte na mídia, não tiveram a chance de assistir ao vivo, o ídolo Ayrton Senna cruzar a linha de chegada com seu Lotus 97T preto, patrocinado pela extinta marca de cigarro John Player Special. Não é difícil encontrar um amante da Fórmula 1 que ainda se arrepia quando lembra das vitórias desse grande piloto. Da mesma maneira, alguém que nasceu depois dos anos 90, perdeu muitas cestas de Oscar Schmidt, que passeava nas quadras de basquete com a mesma facilidade que a nadadora e campeã olímpica, Fabiola Molina, mergulhava nas piscinas de mundiais.
Muitos foram os ídolos do esporte que deixaram registrado a marca de superação e garra que o brasileiro tem, quando se trata de representar o nosso país lá fora. Mas assim como deve ser na vida, quase tudo se transforma e tende a evoluir. Modalidades, regras e novos equipamentos foram acrescentados e o nível de competição ficou ainda mais desafiador para as equipes. Assim, países que levam o esporte a sério e possuem mais fiscalização e infra-estrutura na formação e especialização dos atletas, em geral, conseguem se manter entre os melhores.
No Brasil, onde há uma sensação de desfalque e abandono generalizado, seja na área de segurança, saúde ou educação, perceber o que acontece com o nossos atletas e encontrar um ídolo entre eles, é quase como achar uma agulha no palheiro. Mas apesar de parecer que por aqui, não se fazem mais heróis como antigamente, sempre surge um novo talento para surpreender e emocionar os fãs e torcedores que o esporte tem a capacidade de gerar.
Para o estudante de jornalismo, Gabriel Dantas, 19 anos, não falta talento e inspiração quando se trata de falar sobre assuntos relacionados com a atividade e a cobertura esportiva. Recentemente ele lançou o livro “Os ídolos do esporte que eu não vi”. Em formato de pocket-book, ou livro de bolso, a obra relembra mais de vinte grandes atletas que remontam a memória do esporte brasileiro.
Confira abaixo, uma entrevista exclusiva com este jovem de São José dos Campos e que já tem muita história para contar:
JC – Como foi a sua infância e adolescência?
GD – Minha infância e adolescência foram difíceis. Passei por momentos delicados, entre os quais posso citar o abandono do meu pai e as cirurgias pelas quais foi submetido.
JC – Você enfrentou dificuldades financeiras na vida? Por quê?
GD – Sim. Minha família é de origem humilde. Meu avô foi motorista de caminhão, mas teve que abdicar do seu trabalho por conta de um problema na visão. Minha avó é costureira, e minha mãe é faxineira. Tudo o que eu tenho hoje foi devido ao muito suor dessas pessoas.
JC – Quando surgiu a ideia de se escrever esse livro?
GD – Gosto muito de livros. Tenho uma estante com cerca de 50 obras. É a minha melhor companhia. E também admiro a escrita. Escrever redações, histórias. Sempre fui criativo nas aulas de Português. E isso me motivava a escrever um livro que eu pudesse chamar de meu. Pelo fato de gostar de história, decidi contá-la sobre modalidades e seus ídolos. Um gosto ainda mais especial: dos ídolos que não tive a sensação de vê-lo fazer suas atividades. É uma memória. Memória esportiva.
JC – Qual a mensagem você quis passar com a obra? Fale um pouco sobre esse projeto.
GD – A mensagem principal é contar para as pessoas contemporâneas a importância destes 23 atletas citados na obra. Hoje, devido à fraca safra de atletas notórios, consideramos qualquer um como ídolo de uma normalidade assustadora. E para aquelas pessoas que puderam acompanhar as histórias desses atletas, é uma forma de retornar ao passado e fazer com que essas se perguntem: “Onde estava quando Senna faleceu?” É a busca da reflexão.
JC – Quem foram os principais incentivadores e apoiadores na produção do seu livro?
GD – No início, apenas contei que estava iniciando o projeto para o meu professor Fredy Cunha e para os colaboradores desta obra, exemplos de Ariana Brunello, Nalbert Tavares, Maurício Saraiva. Minha família ficou sabendo após a editora comprar a ideia. Quis guardar esse segredo e fazer uma surpresa.
Gabriel é daqueles jovens alunos que você sente prazer em acompanhar de perto. Quando ele me falou em primeira mão da ideia do livro, fiquei feliz e apenas fiz o papel de incentivá-lo e entusiasmá-lo. O resultado final de nossas conversas foi ótimo! Fiquei orgulhoso com o livro. Ao Gabriel, desejo todo sucesso. Ele é um menino do bem, bastante esforçado e sério em tudo que faz. Merece excelentes coisas!” Fredy Cunha
JC – Em algum momento pensou em desistir? Enfrentou algum problema para conseguir produzi-lo? Você poderia comentar a respeito?
GD – Sim, pensei em desistir. Era um projeto ambicioso. Contar histórias dos ídolos, e estes possui uma grande quantidade de curiosidades. Procurei colocar em prática apenas os principais. E a maior dificuldade foi para conseguir uma editora que comprasse a ideia. Mandei o meu trabalho para dez editoras. Algumas responderam de forma negativa; outras, sequer responderam. Apenas uma aceitou: a APED, do Rio de Janeiro.
JC – Quais as perspectivas que você vê para o futebol brasileiro?
GD – Enquanto não se reduzir os valores salariais dos atletas, não haver uma medida realmente efetiva para retirar os bandidos disfarçados de dirigentes, e uma nova filosofia de jogo for implantada, viveremos por muito tempo neste marasmo. O nível dos jogos é horrível. E precisa haver uma melhor estrutura na base. Se tudo acontecer, o que acho difícil, pois hoje o futebol é uma máquina de dinheiro, a modalidade seria melhor.
JC – Além desse trabalho, qual foi a sua maior conquista ou marco de superação?
GD – A minha maior conquista foi na faculdade. Logo no meu primeiro ano, consegui uma vaga para ser estagiário-voluntário na TV Univap. Fui apresentador, editor, produtor e repórter. Tinha um programa só meu voltado para a área esportiva.
JC – Já fez algum serviço voluntário? Se sim. Pode descrever como foi essa experiência?
GD – Um serviço voluntário que faço é a doação em dinheiro para entidades que necessitam de ajudas. Já visitei asilos, casas de recuperação, e a sensação é maravilhosa, pois você observa o mundo de uma forma diferente.
JC – É religioso? Gosta de ler e pesquisar sobre outros assuntos?
GD – Sou católico, mas não praticante. Acerca de outros assuntos, gosto de ler sobre política e economia.
JC – Toca algum instrumento? O que faz em seu tempo livre?
GD – Não toco nenhum instrumento. Não tenho essa habilidade (risos). Quando tenho um tempo livre, leio um livro ou compareço a um evento esportivo que tem na minha cidade. E dessas idas aos eventos, tenho boas recordações. Como sou apaixonado pela profissão jornalismo e pelas modalidades (vôlei, basquete e futebol), sempre que posso converso com algum profissional da imprensa. É muito bom adquirir novos conhecimentos e ter mais experiências.
JC – Mora sozinho? Tem irmãos ou sente falta da família?
GD – Moro com meu avô e minha avó e mãe. Não tenho irmãos. O restante da minha família está fragmentada em outras cidades.
JC – Você é militante de alguma organização ou apóia alguma causa?
GD – Não faço parte de nenhuma organização. Apoio várias causas, porém de forma indireta.
JC – Por que escolheu o curso? Quais as vantagens de seguir carreira nessa área?
GD – Queria fazer Direito. Porém mudei de ideia e rumei para o Jornalismo. Escolhi o curso para adquirir um senso crítico maior, por gostar de escrever e ler e por querer mudar o mundo com atitudes mínimas. As vantagens de seguir na área são: a oportunidade de desenvolver o lado criativo, contar grandes histórias, presenciar momentos e poder fazer parte de várias editorias, ganhando bagagem cultural.
Casos de superação como o de Gabriel Dantas, que venceu os problemas pessoais e os desafios financeiros para perseguir o sonho de seguir uma carreira, também podem ser acompanhados no Blog do Quero Bolsa. Lá, o estudante que pretende cursar uma faculdade, irá encontrar dicas e informações importantes para conseguir uma bolsa de estudos. Ao lembrar de como foi no início, Gabriel conclui: “Estudava numa escola pública. Mas o nível de educação era pífio. Não estava evoluindo. Busquei uma escola particular, fiz a prova e ganhei bolsa de 100%. Até chegar à faculdade, foi um caminho cheio de obstáculos. A burocracia para conseguir o FIES é a prova mais real.”
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