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Saga

Nota do Editor

  • Com 365 páginas, este romance histórico foi lançado pela Editora Globo em comemoração ao Centenário da Imigração Japonesa no Brasil.

SAGA – A história de quatro gerações de uma família japonesa no Brasil

Do fim da era dos samurais à violência de São Paulo atual, da repulsa inicial ao estilo de vida do Ocidente aos casamentos miscigenados

A obra literária “Saga” é um romance histórico sobre a imigração japonesa do Brasil com dramas e conflitos de quatro gerações de uma família e uma trama que mescla suspense com uma sensível reflexão sobre diferenças étnicas e os limites entre tradição e preconceito, além de constituir uma bela introdução à admirável cultura japonesa.

Desde o início da guerra no Pacífico, as notícias que chegavam do Japão já bastante manipuladas pelos americanos eram em parte distorcidas pela censura getulista e em parte pelos redatores dos principais jornais da colônia japonesa no Brasil. Nestes, as boas notícias – para os Aliados – eram publicadas em pequenas notas e as que davam conta de uma vitória nipônica viravam manchetes em que, subliminarmente era possível notar o famoso yamato damashii, o espírito japonês que inclui a veneração pelo imperador e a consciência da absoluta invencibilidade do Japão.

A partir do ataque a Pearl Harbour, houve uma cisão na colônia japonesa no Brasil. De um lado, estavam os kachigumis, que acreditavam na vitória do Japão e, do outro lado, os makegumis, que não acreditavam nela ou simplesmente não se incomodavam com a vitória ou derrota de seu país de origem, tendo efetivamente assumido o Brasil como pátria.

Essa divisão de opiniões que no início, limitava-se ás discussões e apenas eventualmente gerava alguma briga, tornou-se muito mais séria a partir de 1944, com a criação da Shindô-Renmei (Liga dos Seguidores do Imperador) e depois a rendição japonesa transformou-se em violência declarada dos kachigumis contra os makegumis.

Com sede no número 96 da Rua Pacatu, no Jabaquara, em São Paulo, a Shindô-Renmei atuou com muita intensidade inclusive no interior de São Paulo e do Paraná, criando 64 filiais nesses dois Estados, com um total de 30 mil sócios registrados e mais de 100 mil imigrantes e descendentes que apoiavam a manutenção a qualquer custo do yamato damashii.

Era uma organização rica, pois doações não faltavam e com esses recursos conseguiu montar uma infra-estrutura de divulgação bastante forte, incluindo pelo menos um grande jornal a colônia.

Porém a atuação da Shindô-Renmei, que teoricamente deveria estar limitada à preservação do lado cultural e tradicional do yamato damashii foi focada numa terrível operação de limpeza, que incluía atos terroristas atentados e até mesmo o assassinato de muitos makegumis.

Um dos fatores preponderantes para essa distorção de objetivos foi a forte presença de ex-militares japoneses entre os imigrantes nipônicos que vieram para o Brasil entre 1928 e 1933. Muitos deles vieram para cá tendo como missão exatamente criar nos países onde a colônia japonesa começava a ser significativa, tanto do ponto demográfico como do econômico, núcleos de resistência à dominação política e cultural do Ocidente. Tornaram-se membros da Shindô-Renmei e passaram a divulgar o yamato damashii literalmente impondo suas ideias ainda que de forma violenta. O líder da associação era Junji Kikawa, ex-oficial do Exército Imperial Nipônico e seguidor fanático da divindade representada pelo imperador Hirohito.

Nos meses que antecederam a rendição nipônica, os principais membros da Shindô-Renmei elaboraram uma lista dos makegumis que deveriam ser eliminados pelos integrantes da Tokko-tai, grupo-ação da organização. Essa relação era composta por centenas de isseis e nisseis que, na opinião de Kikawa e seus conselheiros de alguma forma manifestavam-se a favor dos Aliados, mesmo que não militassem contra o imperador.

A Shindô-Renmei iniciou sua ação contra os makegumis com atentados terroristas contra as propriedades daqueles que para Kikawa, estavam ajudando os americanos e, portanto, posicionando-se contra o Japão. Entre eles figuravam principalmente os produtores de seda – matéria-prima para a fabricação de pára-quedas e os plantadores de menta, de onde era extraído um importante aditivo para o combustível dos aviões.

Em 07 de março de 1946, o primeiro makegumi da lista negra a lista dos que deveriam morrer, Ikuta Mizobe foi assassinado na cidade de Bastos, interior de São Paulo, por Satoru Yamamoto. A partir daí, 23 makegumis foram mortos e dezenas tiveram suas propriedades atingidas por atentados.”

Com 365 páginas o livro foi lançado pela Editora Globo em comemoração ao Centenário da Imigração Japonesa no Brasil.

 


LIVROS DO MESMO AUTOR À VENDA


Histórico Familiar, por Ryoki Inoue

“Meus avós conseguiram trazer um pouco de dinheiro, o que facilitou bastante o início de vida para eles. Inicialmente foram para o noroeste do Paraná (onde meu pai, Ryoma Inoue, nasceu) e depois, compraram uma fazenda em Cerqueira César (SP). Essa fazenda, apesar de grande, não tinha boa aguada e eles se mudaram para Cotia, com o objetivo de plantar batatas.

Meu pai se formou médico, meu tio, advogado (Gervásio Tadashi Inoue, que foi o presidente que mais tempo ficou à testa da Cooperativa Agrícola de Cotia), e as duas irmãs casaram-se com agricultores, a mais velha, Haruko, foi para Bragança Paulista e a mais nova, Nobuko, foi para Caucaia.

Meus pais, Carlos Ryoma Inoue e La Salette Alpoim Inoue, se conheceram em Campos do Jordão (SP). Ambos foram tuberculosos. Meu pai era médico de todos os sanatórios de lá e minha mãe lecionava francês e português em um colégio estadual (hoje, a escola onde ela dava aulas chama-se FUNCAMP). A família de minha mãe, cujo sobrenome é Arruda Camargo, era formada por cafeicultores e pecuaristas bem tradicionais. O relacionamento entre meus pais e ambas as famílias foi bastante complicado na época.

Depois de casados, eles andaram por várias cidades, mas principalmente Ribeirão Claro (PR), Cerqueira César (SP) e Cotia (SP). Meu pai também clinicou em Taubaté (SP) e em Brasília (DF). Aposentado, mudou-se para Piúma (ES). Ao lado da medicina, ele sempre lidou com a agricultura, seguindo os passos de meu avô, com a diferença que a sua paixão era a pecuária de corte. Meu tio sempre ficou em São Paulo, pois desde sempre esteve ligado à diretoria da Cooperativa de Cotia.

Eu nasci em 1946, ou seja, no pós-guerra imediato e minha irmã, em 1948. Hoje ela mora nos Estados Unidos. Posso dizer que as lembranças da minha infância são muito boas e que guardo muitas saudades daquela época. Eu sempre estudei em São Paulo, mas em todos os finais de semana e nas férias, eu ia para a fazenda, em Taubaté ou em São Luiz do Paraitinga. Daí a minha paixão pelo campo e, por isso, minha opção em morar em Gonçalves (MG), onde ainda posso tomar leite diretamente da vaca, conheço pessoalmente o porco que foi assado e as verduras são todas orgânicas.”

Minha mãe era portuguesa (advogada e professora de filosofia, grego e latim). Por isso, os costumes nipônicos não eram tão inculcados na minha mente e na de minha irmã. Comecei realmente a me interessar pela cultura japonesa e pelos costumes de meus antepassados quando estava já no ginásio.

Mas, na fazenda de meus avós, sempre havia festas japonesas com muita gente, muita comida. Hoje em dia, a Nicole, minha esposa e que é francesa, é adepta irrecuperável de comida japonesa e até aprendeu a fazer sushi, sashimi e outros pratos típicos. Uma parte importante da minha formação nipônica, eu adquiri no judô e no caratê, que pratiquei desde os sete anos de idade até cinco anos depois de sair da Faculdade de Medicina.

Além de Nicole, minha família é constituída pelo meu filho Georges, que é jornalista e empreendedor digital (criador do meu site e Selo Editorial); minha nora, Patrícia e a netinha, Caroline, que é a luz da casa. Todos admiramos e seguimos muita coisa da cultura japonesa. Tanto que estou escrevendo uma série de livros de bolso sobre samurais e isso me obriga a estudar um pouco mais, a cada livro, sobre os hábitos ancestrais.

Acho que eu não seria quem eu sou e muito menos teria chegado ao que sou se não fosse a cultura japonesa. Ensinamentos básicos orientaram efetivamente o meu comportamento diante de situações, aprendi a ter paciência, perseverança e força de caráter. Tenho passado isso para meu filho, com sucesso e espero que sobre alguma coisa para a neta.

Por incrível que possa parecer, nunca tive oportunidade de conhecer o Japão. Claro que gostaria muito de ir… Escrevi para os dekasseguis brasileiros a pedido de uma empreiteira de mão-de-obra, e criei uma espécie de James Bond mestiço, o Mário Kiyoshi Nogaki, e quatro títulos sobre ele foram levados para o arquipélago. Venderam cem mil exemplares. Pena que essa empreiteira fechou e, por isso, a série foi descontinuada. Estou escrevendo novos títulos com esse personagem para um sistema de downloads na internet, que deve estar disponível a partir de março de 2008.

Para o futuro, pretendo continuar lançando dois romances grandes por ano e, de permeio, produzir várias séries de novelas menores com o intuito de revitalizar o livro de bolso no Brasil e incrementar a leitura de livros digitais. Para o Centenário, gostaria de participar mais… Acho que posso acrescentar coisas, afinal, sou o único nikkei (sansei) que figura no Guinness, na área cultural. E, principalmente, acho que sou um bom exemplo de que a miscigenação funciona…”

Início da Imigração Japonesa no Brasil

“Meu avô paterno, Harema Inoue, era militar, freqüentava a Academia da Marinha e chegou a ser contemporâneo do famoso Almirante Isoruko Yamamoto, que criou os planos de ataque a Pearl Harbour. Os pais dele eram proprietários rurais da província de Kochi. A família de minha avó, Kanetiyo Kira (nome de solteira) era de samurais. A transição para a era Meiji fez com que a agricultura sofresse muito e, com isso, meu avô precisou abandonar a Academia para ajudar na terra.

Eles continuaram enfrentando problemas de falta de mão-de-obra e não havia nem mesmo quem comprasse o arroz que produziam. Foi nessa época que minha avó começou a produzir papel de arroz (minha esposa, que é escritora e artista plástica, ainda tem um pouco desse papel e o utiliza em suas obras). Mas isso também não era o suficiente para sustentar todas as despesas da propriedade, que acabou sendo vendida por um preço muito baixo.

Em meio a esta situação, surgiu a oportunidade da emigração para o Brasil. Meus avós não vieram na primeira leva, mas na segunda, em 1912. Não tenho muitas informações sobre como foi a viagem, mas sei que foi bem difícil.

O tratamento a bordo não era bom e a comida era completamente diferente daquela a que eles estavam acostumados. Muitos ficaram doentes. Quando chegaram a Santos, foram obrigados a vestir roupas ocidentais, só que do fim do século anterior (século XIX) e as mulheres tiveram de usar sapatos de salto alto, coisa que nunca tinham visto antes. Esse desagradável acontecimento foi por conta de alguma maracutaia do pessoal da imigração que recebeu dinheiro para a compra de roupas. Mas compraram só coisas velhas e usadas. Coisa típica do Brasil, mesmo naquela época…”

FONTE: Vale Shimbun / Centenário da Imigração Japonesa


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