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Dinheiro público e regalias presidenciais

Governo português contradiz versão oficial sobre visita de Dilma a Lisboa

Autoridades do país europeu e restaurante que recebeu comitiva já estavam avisados sobre a chegada da presidente brasileira desde quinta-feira; ministros argumentaram que a ‘parada técnica’ foi decidida na última hora

Brasília e Havana – Tratada como segredo de Estado pelo Palácio do Planalto, a passagem da presidente Dilma Rousseff por Portugal já estava confirmada e foi comunicada ao governo local na quinta-feira, o que contradiz o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, segundo quem a decisão de parar em Lisboa só foi tomada “no dia da partida” da Suíça, no sábado passado.

Dilma ficou na Suíça, durante o Fórum Econômico Mundial, de quinta-feira a sábado. Seu destino seguinte, segundo a agenda oficial, seria Cuba, onde está nesta terça-feira. A presidente e sua comitiva, porém, desembarcaram em Lisboa, onde passaram o sábado e a manhã de domingo. Jantaram em um dos restaurantes mais badalados da cidade e se hospedaram nos hotéis Ritz e Tivoli – 45 quartos foram usados. Nada foi divulgado à imprensa.

Após o Estado revelar o paradeiro de Dilma no sábado, o Palácio do Planalto afirmou que se tratava de uma “parada técnica” não prevista. A versão foi dada primeiro pela ministra Helena Chagas (Comunicação Social), no fim de semana, e reiterada nesta segunda-feira por Figueiredo, em Havana.

Pela versão oficial, o plano era sair da Suíça no sábado, parar nos Estados Unidos para abastecer as duas aeronaves oficiais e chegar a Cuba no domingo. Mas o mau tempo teria obrigado a comitiva a mudar de planos na véspera e desembarcar em Lisboa.

Desde quinta, porém, o diretor do cerimonial do governo de Portugal, embaixador Almeida Lima, estava escalado para recepcionar Dilma e sua comitiva no fim de semana. Joachim Koerper, chef do restaurante Eleven, onde Dilma jantou em Lisboa com ministros e assessores, recebeu pedidos de reserva na quinta-feira.

O chef postou em uma rede social uma foto ao lado de Dilma no restaurante – um dos poucos de Lisboa a ter uma estrela no Guia Michelin, um das mais tradicionais publicações sobre viagens do mundo.

Mal-estar. A divulgação da parada em Lisboa aborreceu Dilma e criou mal-estar quando ela desembarcou em Havana.

Nesta segunda, o ministro das Relações Exteriores foi destacado para falar à imprensa sobre o assunto. Primeiramente, repetiu a versão oficial: “Havia duas possibilidades: ou o nordeste dos Estados Unidos, ou parando em Lisboa, onde era o ponto mais a oeste do continente. Viu-se que havia previsão de mau tempo com marolas polares no nordeste dos Estados Unidos. Então houve uma decisão da Aeronáutica de que o voo mais seguro seria com escala em Lisboa”.

Depois disse que cada um dos integrantes da comitiva presidencial que jantaram no Eleven pagou sua própria despesa. “Cada um pagou o seu e a presidenta, o dela, como ocorre em todas as viagens. Foi com cartão pessoal.”

A Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto se limitou a informar que, “por questões de segurança”, “não tece comentários sobre detalhamentos das equipes, cabendo apenas ressaltar que elas são compostas a partir de critérios técnicos e adequadas às necessidades específicas previstas para cada viagem”.

A ida de Dilma a Lisboa só passou a constar da agenda oficial da presidente às 13h50 de domingo, horário de Brasília, quase 24 horas depois de a presidente chegar à capital portuguesa. Naquela hora a presidente já tinha decolado em direção a Havana.

Oposição. Líderes da oposição classificaram o episódio como “mau exemplo” de Dilma. Criticaram o fato de a viagem não ter sido divulgada e o preço do hotel onde a presidente ficou. Na tabela, o pernoite numa suíte do Ritz custa R$ 26 mil.
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Contas em Portugal foram pagas com cartões pessoais, diz chanceler

Luiz Alberto Figueiredo, ministro das Relações Exteriores, afirmou que cada membro da comitiva de Dilma pagou a própria diária na ‘escala técnica’ em Lisboa

Cuba – O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, disse nesta segunda-feira, 27, que todos os integrantes da comitiva presidencial que fizeram “escala técnica obrigatória” em Lisboa, no último sábado, pagaram a conta do restaurante onde jantaram com recursos próprios.

Figueiredo deu a declaração a pedido de Dilma, uma vez que a notícia da parada da comitiva em Lisboa, revelada pelo Estado, provocou cobranças da oposição e irritou a presidente. Questionado se a conta do estrelado restaurante Eleven, com vista sobre o rio Tejo, havia sido quitada com cartão corporativo, Figueiredo respondeu de pronto: “Não, cada um pagou o seu e a presidenta, o dela, como ocorre em todas as viagens. Foi com cartão pessoal”.

O chanceler repetiu os termos da nota divulgada no domingo pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência ao argumentar que a passagem da comitiva de Dilma por Lisboa, antes da viagem a Cuba, seguiu recomendação da Aeronáutica. A presidente estava em Davos, na Suíça, para participar do Fórum Econômico Mundial. Antes de seguir para Havana, onde prestigiará a II Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), ela e sua comitiva fizeram uma escala em Lisboa.

“As aeronaves da Presidência não têm autonomia para viajar de Zurique a Cuba”, justificou Figueiredo. “Havia duas possibilidades: ou o nordeste dos Estados Unidos, ou parando em Lisboa, onde era o ponto mais a oeste do continente. Viu-se que havia previsão de mau tempo com marolas polares, no nordeste dos Estados Unidos. Então houve uma decisão da Aeronáutica de que o voo mais seguro seria com escala em Lisboa”.

Sem sentido. Figueiredo disse que a decisão só foi tomada “no dia da partida” e por isso não houve informação prévia. Indagado por que Dilma e a comitiva não pernoitaram na Embaixada do Brasil em Portugal, o chanceler afirmou que isso não faria sentido. “Não cabe uma comitiva presidencial numa embaixada, onde mora um embaixador. Não tem quartos suficientes, nem vai ter nunca”, comentou ele.

Dilma e sua comitiva ocuparam 45 quartos de dois hotéis luxuosos em Lisboa, o Ritz e o Tívoli.

Auxiliares da presidente disseram ao Estado que o preço pago pela hospedagem não foi o divulgado porque, quando muitos quartos são reservados, a tarifa não é a de balcão. Segundo informações do jornal, a diária da suíte presidencial no Ritz, onde Dilma se hospedou, custa o equivalente a R$ 26,2 mil.

O Estado apurou que a notícia divulgada sobre a escala técnica em Lisboa aborreceu Dilma e criou mal-estar quando ela desembarcou em Havana, no domingo. Além de tudo, azedou o clima de otimismo deixado por ela após sua passagem pelo Fórum Econômico Mundial. Na avaliação de auxiliares da presidente, ela lançou em Davos uma segunda Carta ao Povo Brasileiro, garantindo aos empresários que o Brasil é um país com estabilidade econômica, que respeita contratos.

Governo criará ação para tratar manifestos contra a Copa

A presidente Dilma Rousseff pretende reunir-se logo que retornar de Cuba com os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça), Celso Amorim (Defesa) e Aldo Rebelo (Esportes) para tratar de uma estratégia do governo federal diante dos protestos contra a realização da Copa da Fifa no Brasil. De acordo com informação de auxiliares da presidente, ainda em Lisboa, onde desceu de surpresa e pernoitou antes de seguir para Havana, Dilma foi informada de que os protestos contra a Copa feitos no sábado, 25, foram violentos, com pessoas feridas, depredações e ondas de vandalismo.

Fonte: Agência da Força Aérea Brasileira.

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