Num país onde as artes cênicas são mal reconhecidas e pessimamente remuneradas, os festivais de teatro ainda constituem o único caminho para autores e atores que pretendem dedicar a vida ao palco. Enquanto o teatrólogo Antônio Araújo mostre cepticismo quanto aos projetos de festivais, Sérgio de Carvalho procura enaltecê-los.
Segundo Antônio Araújo, diretor da Companhia Teatro da Vertigem e professor do Departamento de Artes Cênicas da ECA/USP, os festivais de teatro no Brasil representam pouco ou quase nada para o desenvolvimento dessa arte. Validade teriam, mesmo, os festivais internacionais pois estes possibilitariam contato com produções estrangeiras, estabelecendo parâmetros de desenvolvimento para o teatro nacional.
Na realidade, o que acontece é que esses festivais carecem de estímulo para sua continuidade, dificilmente passando de três ou quatro edições. Mais uma vez, as instituições governamentais e privadas têm a maior parte da culpa por insistirem em não investir em cultura.
No Brasil, justamente por causa das dimensões continentais de nosso País, há uma grande dificuldade de circulação dos trabalhos teatrais. Seria diferente, por exemplo, se companhias aéreas facilitassem as viagens dos atores e equipamentos. Porém, tal não ocorre e aquilo que já é difícil, torna-se quase irrealizável, companhias teatrais sendo obrigadas a se locomover de ônibus quando não em caminhões, como verdadeiros e autênticos saltimbancos. E isso sem contar com as incríveis dificuldades de acomodação e (pasmem!) de locais para as apresentações. Como desenvolver festivais itinerantes, como fazer para companhias de teatro da Amazônia se apresentarem num festival no Rio de Janeiro ou São Paulo?
O resultado é a permanência do ranço cultural estabelecido no eixo Rio-São Paulo, com mínimas aberturas para outros Estados (desde que próximos, como Minas Gerais e Paraná).
Já para Sérgio Carvalho, diretor do grupo Companhia do Latão e professor de Literatura Dramática na Universidade Estadual de Campinas, os festivais têm importância significativa para o teatro brasileiro pois acabam por se transformar no único espaço em que a pesquisa e o risco artístico têm reconhecimento.
Mais uma vez, a queixa é a da falta berrante de estímulo material (investimentos) na Cultura brasileira.