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A Marcha das Mulheres Negras
Photo Credit To Mariana Vilela
A Marcha das Mulheres Negras

A Marcha das Mulheres Negras

Nota do Editor

  • Evento celebrou o Dia Internacional da Mulher Negra, Latina e Caribenha com apresentação do Bloco Ilú Obá de Min.

Ontem, recebi um convite para comparecer na Marcha das Mulheres Negras celebrando o Dia Internacional da Mulher Negra, Latina e Caribenha, comemorado no dia 25 de julho, em que também é comemorado o Dia Nacional de Teresa de Benguela, importante líder quilombola do século XVIII. O evento  reuniu centenas de mulheres na Praça da República, às 20h, em São Paulo. 

Como mulher brasileira, cada vez mais me inteirando sobre a urgência das pautas das mulheres, especialmente as negras deste país, me senti convocada a participar.

O ato contou com articulações de diversas lideranças e continuou com a Marcha das Mulheres Negras, organizado pelo coletivo de mulheres Ilú Oba de Min, até o largo do Paissandu e apresentação de capoeira em frente a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Os discursos abordaram as temáticas da empregabilidade, espaços de poder e relações de afeto.

“Não somos as executoras. Nós queremos lugares de poder em todos os espaços. Na política, nos sindicatos. Nós não somos apenas tarefeiras, nós queremos lugares de poder e decisão”, afirmou uma das líderes do movimento.

Ela continuou dizendo que as mulheres negras, apesar de representarem 25% da população deste país, têm o trabalho mais precarizado e que sustentam mais de uma família, com dinheiro e com afeto. “Nós temos os piores postos de trabalho. As mulheres negras sustentam este Brasil”, continuou.

Ela está se referindo aos números alarmantes em relação a emprego e renda das mulheres negras, fora os dados de violência contra elas, que não comentou neste texto. Relatório do Panorama Social de América Latina de 2018, feito pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), dão uma ideia das dificuldades colocadas que as mulheres enfrentam. 

Pelo estudo da Cepal, a discriminação começa cedo. As mulheres jovens sem estudo e sem trabalho, no ano de 2016, correspondiam a 31,2% na América Latina. Entre os homens jovens, esse índice ficou em 11,5%.

Neste mesmo ano, em que as políticas de promoção da igualdade de gênero ainda prevaleciam em boa parte dos países, a taxa de desemprego era de 10,4% entre mulheres e de 7,6% entre homens. O contingente de 48,7% das mulheres recebiam menos que o salário mínimo. Entre os homens o índice era 36,7%. 

“O reflexo dessa crise econômica e de ajustes atinge principalmente as mulheres negras, que continuam ocupando os setores mais precários do trabalho e ganhando em média 45% a menos em relação ao homem branco e 30% a menos que a mulher branca”, afirma Glicélia Bitencourt, secretária da Consciência Negra da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).  “As mulheres negras estão na base da pirâmide com os trabalhos mais estressantes e distantes de casa e os piores salários”.

Não é é difícil perceber esta realidade. É só olhar para a maioria das empregadas domésticas das famílias de classe média e as mulheres em situação de rua para constatar qual a cor de suas peles. 

Para Bitencourt, com o fim das políticas públicas de atendimento e acolhimento, a situação só vem se deteriorando, aumentando o número de mulheres trabalhando nas ruas como vendedoras ambulantes, sem nenhum direito trabalhista. 

Poemas doloridos 

Após os discursos, teve início a apresentação do Bloco Ilú Oba de Min, Associação sem fins lucrativos que vem ganhando força na cidade de São Paulo e atualmente conta com 350 participantes que atuam com eventos educativos, culturais e artísticos que têm como base as culturas de matriz africana e afro-brasileira, com a mulher no centro das manifestações. 

O desfile aconteceu nas ruas de São Paulo com dança, música e canto, com sonoridades que celebrava as matrizes africanas e transmitiam pelo canto as dores e lutas das mulheres.

Além da Marcha, poetas negras leram suas poesias “manifestos”, que tocam em feridas comuns como solidão e objetificação de corpos, exigindo respeito.

“É só pra isso que eu sirvo

E os nossos encontros que se fazem secretos

Mas é porque você quer me reservar e é reservado

Mas na primeira oportunidade é a menina branca que está ao seu lado

Eu já conheço seu discurso e está desgastado

Aê, pretinha, é só questão de gosto

E deve ser gosto objetificar o meu corpo

Na hora de fuder e dizer que eu tenho gosto

que eu tenho gosto e a cor do pecado

Pau no seu cu, seu arrombado

Dessa fita, meu coração tá farto

De se sentir ímpar

E de você dizer do rebolado da pretinha

Das mina branca que disse que poderia ter nascido preta

Até porque tá no sangue saber sambar

Eu tô cansada da solidão

Eu queria mesmo é amar. (…)

(…) Mas se você parar de falar que eu sou mulata exportação

Exporta para puta que pariu seu preconceito

Seu bando de vacilão”

Poesia lida na Marcha das Mulheres Negras no Dia Internacional da Mulher Negra, Latina e Caribenha.

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Jornalista humanista, comunicadora e amante das artes. Meus textos em mariana.journoportfolio.com Instagram: @jornalistahumanista

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