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Até onde vai a imparcialidade do jornalismo brasileiro?

Falando em mídia: até onde vai a imparcialidade do jornalismo brasileiro sobre o cenário em nações de menor relevância para os barões da mídia

A formação de opinião através do que é passado na TV e nos jornais

Um rápido olhar pelas páginas dos jornais ou pelas manchetes de televisão denuncia uma solidão latino-americana tão forte quanto a retratada por Gabriel García Márquez em Cem Anos de Solidão, afirma Alexandre Barbosa, professor universitário (Uninove) e jornalista. Mestre em Ciências da Comunicação pela USP e especialista em Jornalismo Internacional pela PUC-SP.

A cobertura palaciana de presidentes e encontros comerciais no velho mundo ganha mais importância do que os conflitos sociais nos campos latino-americanos. Há diferentes fatores que explicam este cenário de solidão e que podem ser encontrados em dois eixos de análise.

Além disso, dentro de uma redação, na tentativa de manter o emprego o jornalista adota as mesmas categorias de pensamento de seus patrões. Em pouco tempo dentro de uma indústria jornalística, o repórter passa a defender os mesmos interesses dos grupos econômicos e políticos proprietários dos veículos de comunicação.

Em outro eixo de análise está a história latino-americana. O continente foi cindido historicamente em duas regiões: a América Latina Oficial e a América Latina Popular. Na América Latina Oficial estão as grandes cidades, a elite branca do litoral e dos centros econômicos. Já a América Latina Popular é a dos rincões, dos sertões, dos pântanos, das montanhas, mestiça, negra, índia, operária e camponesa.

A América Latina Oficial impõe o domínio à Popular, mas é dominada pelos EUA e pela Europa. A indústria jornalística brasileira é orgânica da América Latina Oficial, por isso criminaliza e despreza movimentos sociais e todas as manifestações da América Latina Popular.

O outro lado da história hoje só é contado pela mídia independente, orgânica da América Latina Popular, ligada aos movimentos sociais camponeses e operários. São veículos como o jornal e revista do MST, as revistas Caros Amigos, Fórum, o jornal Brasil de Fato, Ópera Mundi, Carta Maior e Nexo.

A saída para a América Latina Popular sair dessa solidão a que parece condenada é fortalecer ainda mais os meios de comunicação ligados aos movimentos sociais. Deve incentivar uma mídia que não siga a lógica da indústria jornalística e adote outras categorias de seleção de notícias que contemplem a história, as lutas, a cultura e o cotidiano da América Latina Popular.

Desde que a mídia se tornou democrática ela é usada por grandes empresários e políticos para manipular grande parte da população de acordo com seus interesses, que seria manter a sociedade a seu favor. Com a mídia digital os meios de comunicação “independentes” têm cada vez mais tomando notoriedade, e a profundidade e conhecimento de fatos relevantes sobre centros não tão expoentes (América do Sul & África) fica a encargo de seus leitores.

Vamos colocar a ilha de Cuba como exemplo, grande parte dos problemas existentes no país pode-se colocar na conta dos embargos feitos a ilha pelos EUA. Um país totalmente subjugado pelo poder e pela ‘força maior’ dos países capitalistas ou influenciados por eles. Em um mundo que se diz globalizado, onde grande parte dos ‘bens de necessidade básica’ vem de importação americana / capitalista, um país declaradamente comunista sofre para conseguir se manter sem os recursos barrados por quem os produz e fornece, ou deveria fornecer. Pensando assim, é injusto dizer que o povo daquela nação sofre com a falta de recursos como internet, comida adequada, ou papel higiênico, e creditar isso somente ao governo local.

Mas nada disso é mostrado. Nada disso é interessante para os americanos e seus influenciados, mostrar nada que tire a imagem de ditadura e de modelo de economia fracassado que paira sobre quem escolheu outros caminhos que não o da lei do consumo.

A intenção de deturpar a imagem desses países contrários ao regime capitalista é muita clara, não enxerga quem não quer. Ou, não enxerga quem assiste televisão no Brasil.

Ressaltamos também como ponto importante a origem real da mídia brasileira que não da o devido e importante destaque aos demais países da América Latina e África

Ao analisar a relação da mídia brasileira com a América Latina e África, primeiro temos que abordar o período da história da “Ditadura Militar ou Golpe Militar.”

Em 1964 com o golpe Militar, na América do Sul, o Brasil começa a ser colonizado, pelos Estados Unidos, no qual há teorias da conspiração de que “após a vitória da segunda guerra mundial, os Estados Unidos já premeditaria o Golpe Militar no Brasil.”

Com os golpes militares na América do Sul, nos anos de 1960 e 1970 no Brasil, Chile, Argentina e Uruguai foram procedidos de uma intensa campanha americana de “americanização sobre a América do Sul.”

Sobre o continente africano se compararmos a cobertura feita pela mídia brasileira e a cobertura de outros assuntos pelo mundo, percebe-se grande distância em relação àquele continente, quase sempre uma pauta ausente no nosso jornalismo, com exceção de conflitos políticos, crises econômicas e tragédias humanitárias.

Concluímos que a África é representada na mídia, em boa medida, apenas como uma denominação geográfica, um continente homogêneo, dando-se pouca atenção às especificidades étnicas, sociais, culturais e políticas dos seus países ou ainda, como se essas especificidades não existissem.

Observamos também que há a predominância de duas imagens mais recorrentes de África que são, de um lado, um lugar excêntrico culturalmente e, de outro, o lugar da fome, da miséria e de acontecimentos trágicos. Desta forma, quando os países africanos são apresentados aos brasileiros, veem-se as histórias e realidades daquele continente serem ditas de maneira simplificada e reducionista, como se estivéssemos excluindo a diversidade presente entre os 54 países.

Outra situação que favorece uma construção insuficiente das informações divulgadas pela mídia brasileira é o fato da África não ser o destino dos jornalistas brasileiros correspondentes no exterior. Isso justifica a ausência da cobertura de muitos aspectos da vida africana, que não se tornam notícia pela ótica do jornalismo feito no Brasil.

Conclusão:

A mídia brasileira precisa ser debatida com urgência

O desconhecimento que a sociedade tem do seu próprio país se deve à maneira como a grande mídia recria a nação. É preciso discutir sua estrutura e conteúdo para compreender o papel que ela exerce.

Por tradição o brasileiro continua consumindo os mesmos jornais e os mesmos programas, hoje, existem uma ponta de desconfiança que antes não tinha lugar.

Essa nova situação requer atenção porque dela pode decorrer uma série de novas ressignificações sobre o funcionamento da sociedade brasileira que é extremamente pautada pela mídia. Entretanto, se não surgirem questionamentos que possam gerar reflexão no grosso da sociedade, o processo de transformação permanecerá estagnado. Debater o conteúdo e a estrutura da grande mídia talvez seja o caminho mais produtivo para a compreensão do papel que ela exerce.

Arrisco dizer que a responsabilidade pelo desconhecimento que a sociedade tem do seu próprio país e dos países vizinhos se deve à maneira como a grande mídia retrata. Na perspectiva das grandes empresas de comunicação existe apenas o Brasil, Europa e América do Norte. O restante é tratado apenas em ocasiões especiais.

Há que se debater a qualidade desse tipo de jornalismo que esconde não apenas fatos de suma relevância sobre o continente Sul Américo, mas uma parcela significativa da história população dos países vizinhos. Isso deixa claro que não existe pluralidade de discursos na mídia brasileira. Uma característica que prejudica o país como um todo.

Quem são os donos da mídia?

Há muitos anos, organizações que defendem a democratização dos meios de comunicação e o respeito à Constituição denunciam esta prática. Não só porque nossa lei maior já a proíbe, mas porque seus efeitos para a saúde da nossa democracia são óbvios: favorecimento político, interferência no debate de ideias, violação do direito de acesso à informação, maculação de eleições livres, entre tantos outros.

Os dez grupos e a quantidade de veículos de comunicação que detêm maior controle da mídia no Brasil são:

  • Grupo Abril São Paulo, SP 74
  • Grupo Globo Rio de Janeiro, RJ 69
  • Grupo RBS Porto Alegre, RS 57
  • Grupo Bandeirantes de Comunicação São Paulo, SP 47
  • Governo federal brasileiro (EBC) Brasília, DF 46
  • Grupo Record São Paulo, SP 27
  • Grupo Silvio Santos São Paulo, SP 26
  • Grupo Jaime Câmara Goiânia, GO 24
  • Sistema Mirante de Comunicação São Luís, MA 22
  • Diários Associados Brasília, DF 19
  • Organizações Rômulo Maiorana Belém, PA 15

Os dez partidos políticos cujos membros detêm maior controle da mídia no Brasil

  • Democratas (DEM) 58
  • Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) 48
  • Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) 43
  • Partido Popular (PP) 24
  • Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) 16
  • Partido Socialista Brasileiro (PSB) 16
  • Partido Popular Socialista (PPS) 14
  • Partido Democrático Trabalhista (PTB) 13
  • Partido Liberal (PL) — extinto em 2006 12
  • Partido dos Trabalhadores (PT) 10

Os dez políticos com mais controle sob a mídia no Brasil são:

Político – Cargo – Veículos dos quais é sócio

Antônio Bulhões (PMDB-SP) Deputado federal

  • 96 FM — Salvador, BA
  • Rádio Catedral — Canoas, RS
  • Rádio Metropolitana Santista —
  • São Vicente, SP
  • Rádio Capital AM — Porto Alegre, RS
  • Record News Araraquara — Araraquara, SP
  • Rede Aleluia de Rádio — Florianópolis, SC
  • Rede Aleluia de Rádio 91,9 FM — Olinda, PE

Roberto Rocha (PSDB-MA) Deputado federal

  • Paranoá AM — Presidente Dutra, MA
  • Rádio Capital do Maranhão — Pindaré-Mirim, MA
  • Rádio Capital do Maranhão — São Luís, MA
  • Rádio Capital AM 1180 — São Luís, MA
  • TV Cidade — São Luís, MA

José Antônio Bruno (DEM-SP) Deputado estadual

  • Fundação Rensacer — Louveira, SP
  • Mello & Bruno Comércio e Comunicação Ltda. — Barão de Cocais, MG
  • Mello & Bruno Comércio e Comunicação Ltda. — Agudos, SP
  • RBTV Campo Mourão — Campo Mourão, PR
  • RBTV Lages — Lages, SC

José Carlos de Souza (PMDB-SE) Prefeito de Divina Pastora, Sergipe

  • Ceará Rádio Clube — Fortaleza, CE
  • FM Sergipe 95,9 — Aracaju, SE
  • Rádio ITA FM — Itaberaí, GO
  • Rádio Cultura de Sergipe AM 670 — Nossa Senhora do Socorro, SE
  • TV Sergipe — Aracaju, SE

Francisco Pereira Lima (PL-MA) Prefeito de Davinópolis, Maranhão

  • FM Arapiraca — Arapiraca, AL
  • Rádio Clube AM — Teresina, PI
  • Rádio Clube FM 98,1 — Açailândia, MA
  • Rádio Novo Nordeste AM 570 — Arapiraca, AL
  • TV Clube — Teresina, PI

Elcione Barbalho (PMDB-PA) Deputada federal

  • 99 FM — Belém, PA
  • Rádio Clube do Pará — Ananindeua, PA
  • Rádio Clube do Pará — Belém, PA
  • TV RBA — Marabá, PA
  • TV RBA — Belém, PA

Wellington Salgado de Oliveira(PMDB-MG) Senador

  • RIO FM — Rio Bonito, RJ
  • RIO FM — Parati, RJ
  • TV Goiânia — Goiânia, GO
  • TV Vitoriosa Ituiutaba — Ituiutaba, MG
  • Venenosa FM — Senador Canedo, GO

José Agripino Maia (DEM-RN) Senador

  • FM Tropical 103,9 — Natal, RN
  • Rádio Libertadora 1430 — Mossoró, RN
  • Rádio Ouro Branco 1360 — Currais Novos, RN
  • TV Tropical — Natal, RN

Antônio Alves da Silva (PRP-SP) Prefeito de Parapuã, São Paulo

  • Fundação Barcarena de Comunicação e Assistência Social — Barcarena, PA
  • Fundação Barcarena de Comunicação e Assistência Social — Tucuruí, PA
  • Rádio Clube AM — Teresina, PI
  • TV Clube — Teresina, PI

Roseana Sarney (PMDB-MA) Governadora do Maranhão

  • Mirante FM 96,1 — São Luís, MA
  • Rádio Alecrim — Caxias, MA
  • Rádio Verdes Campos — Pinheiro, MA
  • TV Mirante São Luís — São Luís, MA

Aécio Neves (PSDB-MG) — Senador 

  • Rádio Arco Íris — Jovem Pan

Henrique Alves (PMDB-RN) — Deputado federal (não obteve novo mandato) 

  • Inter TV (Cabugi)

José Agripino (DEM-RN) — Senador 

  • TV Tropical

Tasso Jereissati (PSDB-CE) — Senador 

  • Band — TV Jangadeiro

Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA) — Prefeito de Salvador 

  •  Rede Bahia de Televisão — Correio (Jornal)

Renan Calheiros Filho (PMDB-AL) — Governador de Alagoas 

  • Rádio CBN Rádio Correio

Agripino Maia — (DEM- RN) — Senador 

  •  Record

Fernando Collor de Melo — (PTB-AL) — Senador 

  •  Globo

Fontes: Brasil de Fato / Opera Mundi / Carta Capital / Observatório de Imprensa

Especialistas: Breno Altiman / Opera Mundi, Paloma Varón / Rádio France Internationale, Jorge Alexandre Pontual e Lourival Sant’Anna

Jornalista & Cronista. Apaixonado pela arte da comunicação, crítico e analítico por natureza.

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