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As múltiplas telas podem salvar vidas: sistemas de alerta antecipado de emergência

As múltiplas telas podem salvar vidas: sistemas de alerta antecipado de emergência

Os alertas antecipados de emergência (EEW- Early Emergency Warning, em inglês) utilizam os meios de comunicação e informação para enviar alertas e avisos de emergência, principalmente a televisão. Essas informações podem antecipar emergências relacionadas ao clima, terremotos, acidentes químicos, entre outras.

O uso da informação e da comunicação é destaque na maioria da documentação sobre prevenção e ação relacionadas a catástrofes. De acordo com o National Research Council dos Estados Unidos (1989), a comunicação de risco pode ser conceituada como: “…um processo interativo de troca de informações e opiniões entre os indivíduos, grupos e instituições, que frequentemente envolve várias mensagens sobre a natureza do risco ou expressa preocupações e opiniões legais e institucionais sobre a gestão do risco”. (apud LOPES et al. 2010, p.62).

Todo sistema de alerta é, na verdade, a ponta de um imenso iceberg criado a partir de um complexo conjunto de informações, como as meteorológicas, formadas pelo cruzamento de diversos dados como a precipitação de chuva versus acúmulo de água em encostas, informações topográficas, mapas e imagens de satélite e, com isso determinar os parâmetros necessários para analisar se uma área está sujeita a inundações, por exemplo.

Os Alertas Antecipados de Emergências são informações transmitidas diretamente à população, como avisos de emergências ou desastres naturais iminentes e são componentes de um sistema denominado EWS (Early Warning System) ou, ainda, em um Sistema de Alerta de Emergência por Radiodifusão, ou Emergency Warning Broadcast System – EWBS. Todos estão relacionados a crises e contém informações importantes que são enviadas às autoridades e depois diretamente à população; às vezes, simultaneamente. O tipo de crise pode estar relacionado a um evento natural ou não, que coloque em risco a população como um todo, ou apenas parte dela e, dessa forma, podem estar relacionados a eventos de guerra, questões de saúde pública e questões de meio ambiente, climáticas e sísmicas.

Durante a evolução da Humanidade, diversas formas de alertas foram utilizadas. Inicialmente, havia as preocupações com o alerta de invasões de territórios, o que levou a criação de sistemas simplificados com o uso de sinais sonoros e visuais, como sinos e fogueiras, estas últimas também utilizadas para alertas na área de navegação, como os faróis, sendo a mais antiga, provavelmente, relacionada ao famoso, farol de Alexandria.

Durante séculos, estas foram formas primitivas de avisar a população ou setores específicos, como no caso da navegação, de que existia algum tipo de risco iminente. Eram, de fato, formas primitivas de informação e comunicação que, naturalmente ,evoluíram quando novas tecnologias foram introduzidas nesses campos. Assim, quando a informação entrou na fase da distância (tele), antes restrita à distância máxima do contato visual ou sonoro entre emissor e receptor, o processo de comunicação das informações relacionadas a uma crise iminente pôde atravessar fronteiras. O início se deu com o telégrafo e o telefone, seguidas, depois, pelas “velhas” novas tecnologias, como o rádio e a televisão e, hoje, evoluindo para as tecnologias digitais.

Os alertas desenvolvidos para outras áreas, principalmente para eventos de guerra e sísmicos, terminaram sendo base para o desenvolvimento de complexos sistemas de alertas antecipados de emergência que, logicamente, podem e devema trabalhar em conjunto, visto que o objetivo principal é salvar vidas humanas e minimizar perdas patrimoniais.

Grandes tragédias como o tsunami de 2004, que vitimou aproximadamente 230.000 pessoas em 14 países, o furacão Katrina nos EUA e o tsunami de 2011 no Japão, trouxeram ao cenário internacional a discussão sobre sistemas globais de alerta e monitoramento. Prova disso é que dentre os objetivos estratégicos da Organização Meteorológica Mundial (World Meteorological Organization, WMO) através do programa de Redução de Riscos de Desastres (Disaster Risk Reduction – DRR Program), destacam-se os Sistemas de Alerta Antecipado, ou Early Warning System (EWS) e a Preparação para Emergências.

O assunto tem sido tema de atenção da comunidade internacional, com a realização de três conferências internacionais nos anos de 1998, 2003 e 2006, organizadas pelo governo da Alemanha, dois simpósios internacionais de especialistas em multirriscos EWS, nos anos de 2006 e 2009, organizados pela Organização Meteorológica Mundial, o Relatório Global 2006 de questionários sobre EWS das Nações Unidas e o Relatório Mundial de Desastres, realizado em 2009, pela Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. Em janeiro de 2005, durante a II Conferência Mundial sobre Redução de Desastres realizada na cidade de Kobe, no Japão, 168 países adotaram o “Hyogo Frameworks for Action 2005-2015” (Quadro de Ação de Hyogo – sigla HFA, em inglês) que gerou profundas mudanças no paradigma da redução do risco de desastres, a partir de respostas posteriores a desastres, para uma abordagem mais abrangente que também inclui medidas de prevenção e preparação. (GOLNARAGHI, Maryam, p.2). Em abril de 2015, foi assinado um novo tratado, o Marco de Sendai para a Redução do Risco de Desastres 2015 – 2030, aprovado na Terceira Conferência Mundial das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres realizada na cidade de Sendai, Japão, de 14 – 18 de março de 2015.

O novo Marco de Sendai para a Redução do Risco de Desastres 2015 – 2030 representa um grande avanço sobre o Marco anterior (o Marco de Ação de Hyogo). O novo Marco tem como meta alcançar nos próximos 15 anos: a redução substancial dos riscos de desastres e perdas de vida, meios de subsistência e saúde e dos ativos econômicos, físicos, sociais, culturais e ambientais das pessoas, empresas, comunidades e países.

Antes disso, em 2003, a II Conferência Internacional sobre Avisos Antecipados realizada em Bonn, na Alemanha, concluiu que EWS eficazes são compostos de:

—Monitoração e serviço de alerta: perigos são detectados, monitorados e são desenvolvidos previsão e avisos de perigo;

—Conhecimento dos riscos: os riscos são analisados ​​e esta informação é incorporada às mensagens de alerta;

—Divulgação: os avisos são emitidos (por uma fonte oficial designada) e divulgados em tempo hábil para autoridades e público em risco;

—Capacidade de resposta: planos de emergência de base comunitária são ativados em resposta aos avisos, para reduzir os impactos potenciais na vida das pessoas.

De fato, muitas das boas práticas em todo o mundo têm demonstrado que EWS multirriscos devem ser desenvolvidos com uma abordagem multisetorial e multinível (nacional ao local).

ALERTAS ANTECIPADOS DE EMERGÊNCIA FOCADOS NAS PESSOAS

Na III Conferência Internacional sobre Avisos Antecipados, realizada em 2006, em Bonn, na Alemanha, o foco passou para o aviso antecipado diretamente na população, com o objetivo de “empoderar“ os indivíduos e comunidades, sob a ameaça de perigos, a agir de forma correta para reduzir a possibilidade de ofensas corporais, perdas de vida e danos nas propriedades e danos no ambiente”. Um sistema de aviso prévio completo e eficaz é composto por elementos inter-relacionados, desde o conhecimento dos perigos e das vulnerabilidades até à preparação e capacidade de resposta. “Os sistemas de aviso prévio com melhor prática também têm interligações fortes e canais de comunicação eficazes entre todos os elementos” e ainda:

O aviso antecipado é um elemento importante na redução de risco de desastres. Evita a perda de vidas e reduz o impacto econômico e material dos desastres. Para serem eficazes, é necessário que os sistemas de aviso prévio incluam as comunidades em risco, facilitem a educação e a conscientização públicas de riscos, propaguem eficazmente as mensagens e alertas e garantam que existe um estado constante de preparação” (International Strategy for Disaster Reduction – Organização das Nações Unidas. Terceira Conferência Internacional sobre o Aviso Antecipado de Emergência (EWC III) Bonn, Alemanha. 2006). (UN/ISDR, 2006, p.2).

Avaliações e resultados da revisão realizada sobre a HFA em 2010 (Hyogo Frameworks for Action 2005-2015) revelaram que muitos países já operam EWS para alertas sobre perigos naturais e artificiais. No entanto, a prioridade governamental, o estágio de desenvolvimento e eficácia geral dos EWS em nível nacional e sua transferência para os níveis locais, variam amplamente. Vários países, especialmente aqueles com os maiores riscos e menos recursos, continuam com altas contestações sobre a construção e manutenção de seus EWS em nível nacional e sua ampliação para os níveis da comunidade. No Sendai Framework for Disaster Risk Reduction 2015-2030, foi reforçada a necessidade de investimentos em EWS:

Investir, desenvolver, conservar e fortalecer: os sistemas de alerta antecipado e de aviso prévio de perigos com um enfoque multissetorial e centrado nas pessoas; os mecanismos de comunicação de riscos de desastre e os alertas de emergência; as tecnologias sociais e os sistemas de telecomunicação para monitoramento de riscos. Desenvolver tais sistemas através de um processo participativo. Adaptá-los às necessidades dos usuários, incluindo os requisitos sociais e culturais e, em particular, os de gênero. Promover a implantação de equipamentos e instalações de alerta antecipado simples e de baixo custo e ampliar os canais de divulgação de alertas antecipados de emergência para desastres naturais. (Sendai Framework for Disaster Risk Reduction 2015-2030, pág.18)

Os desastres naturais causam perdas significativas, tanto na questão de vidas como na de patrimônio. De acordo com estudos entre os anos 1980 e 2008, os incidentes relacionados a condições de tempo, água e clima representaram 90% do número total de catástrofes, sendo responsáveis por 70% das dois milhões de mortes aferidas e 75% do total de perdas econômicas. Estes incidentes, longe de estarem em declínio, têm uma séria tendência de crescimento, segundo novas evidências científicas:

De acordo com o Quarto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), novas provas científicas revelaram que os riscos potenciais relacionados ao clima estão em alta, devido ao aumento da frequência e gravidade das secas, às temperaturas extremas, às precipitações e tempestades severas ligadas à variabilidade e às mudanças climáticas. (Golnaraghi, Maryam, 2012, p.1)

Apesar da impossibilidade de controlar a incidência desses fenômenos, o desenvolvimento de sistemas de alerta antecipado mais eficazes, com o uso sistemático de técnicas de monitoramento e previsão de riscos, formas de comunicação e preparação para emergências, tem obtido significantes resultados na redução de mortes.

DIFUSÃO POR MEIO DE RADIODIFUSÃO

Os alertas antecipados de emergência podem ser disseminados de diversas formas como rádio, celular, internet, mas nenhuma é tão completa como a emitida pelos sinais da televisão digital, utilizado pelo governo Japonês, exatamente pelas possibilidades que a interatividade local permite (com informações enviadas diretamente ao aparelho de TV, ou ao dispositivo móvel, pelo ar) e sua forma de emissão, de um para muitos de forma extremamente confiável, o que faz dela a tecnologia mais adequada para a difusão desse tipo de informação.

Em uma situação de emergência, os Meios de Comunicação de Massa cumprem uma função social importante tornando-se um instrumento de primeira ordem, que chega rápida e efetivamente a toda a população, visto que os sinais de radiodifusão não estão sujeitos a congestionamento e, com a tecnologia digital, podem fornecer informações básicas durante a emissão de alertas. Esses avisos podem ser difundidos por emissoras de rádio e TV aberta, por cabo e satélite. Nos EUA, existe o uso do chamado SMSB (B de Broadcast) que envia sinais para todos os celulares de uma região de forma maciça, porém ainda pode ser objeto de congestionamento quando os usuários iniciarem suas comunicações após receberem o aviso inicial. Em abril de 2015, foi apresentado durante a maior feira de tecnologia de televisão, a NABSHOW, um novo modelo utilizando a TV Digital interativa, ainda em fase de testes.

O SISTEMA JAPONÊS: A TV DIGITAL INTERATIVA

O uso da tecnologia da TV Digital interativa para a transmissão de alertas de emergência ganhou destaque mundial após a sua utilização no terremoto seguido de tsunami no Japão, em 11 de março de 2011. O sistema, desenvolvido pela Empresa de Radiodifusão Estatal Japonesa NHK, denominado Emergency Warning Broadcast System (EWBS), visa fornecer aos telespectadores informações sobre proteção contra catástrofes através da transmissão de dados. São variados tipos de informações de desastres, tais como estados de rios e de evacuação. (SASAKI, 2011).

Devido ao pouco tempo entre a detecção de um terremoto e a necessidade do envio de informações, muitas ações são automatizadas como, por exemplo, avisos enviados diretamente para telefones celulares, rádios-relógios e, mesmo, televisores compatíveis com a tecnologia. Esses aparelhos podem, até, ser ligados automaticamente para emitir os avisos, que são visuais e sonoros.

A transmissão dos avisos é feita pela mesma faixa utilizada para a transmissão de TV Digital para dispositivos móveis, a chamada One-Seg, ou um segmento.

Em termos de formato, o sistema japonês é feito de três formas: um sinal sonoro em duas tonalidades avisa que será apresentado um comunicado. Logo após, são sobrepostas à imagem de TV informações icônicas e textuais, com dados da localização e intensidade do sismo, maior problema do país.

Visto que a emissora estatal dispõe de mais de uma centena de câmeras robotizadas, logo após o alerta é possível disponibilizar imagens dos locais das ocorrências sobrepostas por um mapa como na figura 02, relacionada ao tsunami, pós-terremoto, de 2011.

Quando a ocorrência é extrema, informações mais detalhadas são disponibilizadas e a imagem principal é reduzida, de forma a dar mais ênfase à informação escrita. Nesse ponto dá-se início a interatividade com o usuário, oferecendo a possibilidade de interação pelos botões coloridos do controle remoto.

No caso de necessidade de evacuação, são apresentadas outras informações, sempre direcionadas aos usuários, já que o sistema japonês exige o cadastramento do código postal logo ao realizar o primeiro uso do aparelho de TV, o que possibilita direcionar os alertas por localidade.

A interatividade prevista no sistema japonês, só acontece em uma segunda fase, sendo apenas na forma de uma reação às informações oferecidas pelo alerta, tratando-se, então, na verdade, de uma reatividade à informação apresentada. Esse modelo deve-se ao uso da chamada interatividade local no primeiro momento, que não exige acesso à internet, todo o conteúdo é enviado por ar, via Broadcast, e altamente confiável, mas com limitações de quantidade de informações disponíveis, relativas ao tamanho dos arquivos que são transmitidos juntamente com o sinal de televisão.

Essa chamada reatividade pode ser definida como uma interatividade “pobre”, na qual o receptor da informação tem à sua disposição um número bastante limitado de opções e estas não permitem nenhuma flexibilidade de alteração.

Em novembro de 2012, foi realizada uma visita técnica ao centro de pesquisas da NHK, denominado SCIENCE AND TECHNOLOGY RESEARCH CENTER, com apoio da CAPES, via grupo de Pesquisas COMTEC, da Universidade Metodista de São Paulo, coordenado pelo Prof. Sebastião Squirra. Nesse período, foi possível conhecer um novo componente do sistema de alerta, que deve operar concomitantemente ao sistema para TV digital e similar ao modelo da agência federal norte-americana NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), qual seja, um alerta emitido por rádio digital aberto. Tal projeto desenvolve um sistema de alerta baseado em aparelhos de rádio digitais, utilizando a frequência de VHF (Very High Frequency). Duas faixas de frequência, as de baixa frequência (Low VHF), estão sendo utilizadas na região de Tóquio e as outras frequências, High VHF, devem ser utilizadas no restante do país.

Este tipo de rádio é diferente do rádio convencional digital, pois se baseia na mesma forma de divisão por segmentos desenvolvida pela NHK para o sistema de transmissão de TV Digital. Possui uma interessante característica: os receptores também recebem sinais de banda larga, via wi-fi, como uma espécie de redundância em caso de perda de parte do pacote de informações.

Existem outros componentes do sistema, como o Area Mail Distaster Information Service (AMDIS), que fornece informações via telefonia celular. Trata-se de um sistema que utiliza o sinal enviado pelas emissoras de TV para telefones que recebem sinal de TV Digital. É feito na forma de um pop-up(informação em um box que se sobrepõe à tela) e um sinal sonoro de emergência. O usuário deve se cadastrar para receber os avisos que, nesse caso, podem ser emitidos até por autoridades locais.

O SISTEMA NORTE AMERICANO

O sistema de alerta norte-americano é denominado de EAS (Emergency Alert Sistem) é baseado em um protocolo de áudio definido pelas regras da FCC (Federal Communications Commission): um órgão gerador de alerta, seja local, estadual ou nacional, insere um alerta EAS no sistema usando equipamentos de codificação específica; em seguida estações especialmente designadas transmitem esse alerta ao público em suas áreas de abragência. Outros participantes EAS (emissoras de televisão e de rádio, provedores de serviços de vídeo por cabo e via wi-fi, de telefonia fixa, prestadores de serviços por satélite de rádio e televisão, e outros) monitoram as estações especialmente designadas para alertas de EAS e transmitem ao público em suas áreas de abrangência.

Essa arquitetura do EAS é normalmente utilizada pelos responsáveis locais e estaduais para emergências climáticas. Apesar de existir a possibilidade de uso do EAS para alertas nacionais – o modelo original foi criado pensando em um ataque nuclear – somente em 2013 foi realizado um teste de todo o sistema, ou seja, desde que o EAS foi criado, em 1994, nunca houve a necessidade de uso em larga escala.

O Sistema bastante complexo, oferece uma vasta documentação e softwares disponibilizados de forma gratuita com protocolos de padrão de mensagens de alerta, autenticação de envio e troca de mensagens de alerta, redes seguras de distribuição e envio de alertas a redes públicas já existentes. O conjunto de documentos e softwares denominado Open Platform for Emergency Networks (Plataforma Aberta para Redes de Emergência – IPAWS-OPEN) reforça a coordenação eficiente e a colaboração entre organizações de segurança pública, utilizando diferentes sistemas de gestão de incidentes, permitindo o compartilhamento inter-operável dos alertas de emergência já mantidos pelo governo norte-americano.

Na verdade, trata-se de um conjunto de sistemas formado pelo EAS – Emergency Alert System, o NWEM – Non-Weather Emergency Message (NWEM) e pelo NOAA Radio Broadcast – Sistema de Rádio da National Oceanic and Athmospheric Administration, e o Wireless Emergency Alert (WEA), que permite que usuários que utilizam dispositivos móveis, como celulares compatíveis com o sistema, recebam mensagens, em forma de texto, dirigidas a regiões geográficas determinadas. Segundo a FCC, a tecnologia utilizada garante que os alertas de emergência não serão afetados por áreas de grande congestionamento, pois não utiliza a tecnologia de telefonia convencional ou de SMS.

Os EUA têm uma grande experiência adquirida com alertas dirigidos a áreas específicas, utilizando mensagens; exemplo disso é o sistema denominado AMBER ALERT (America’s Missing: Broadcast Emergency Response), específico para alertas de crianças sequestradas e que é disseminado para a área em que esta criança foi vista pela última vez, de modo que as pessoas possam identificar o sequestrador e denunciá-lo. Tal sistema permite emitir avisos dirigidos para um bairro, cidade ou região.

Quando ocorre uma situação de emergência, as autoridades utilizam um software compatível com o Sistema Integrado de Alertas e Avisos ao Público (Integrated Public Alert and Warning System – IPAWS) – para emitir alertas para a população, que pode ser utilizado, até mesmo, em âmbito local.

Para tanto, o IPAWS utiliza um protocolo conhecido internacionalmente como padrão de troca de mensagens de dados, o eXtensible Markup Language (XML), protocolo comum de alertas, ou CAP (Common Alerting Protocol). Desse modo, várias tecnologias que usam esse CAP e têm acesso à internet, podem ser programadas para receber e distribuir alertas enviados através do IPAWS. Sistemas de jogos de computador, os sinais digitais de televisão, sistemas de sirene, os motores de busca na internet, sites de compartilhamento social e mensagens instantâneas são exemplos de tecnologias que estão começando a usar IPAWS para emitir alertas de emergência.

O alerta é enviado pela internet a uma rede de emergência que utiliza uma plataforma aberta, denominada IPAWS-OPEN, que garante que o alerta foi emitido por uma fonte autorizada, autenticando e certificando a origem da mensagem.

Alguns componentes do Sistema:

Ÿ Common Alerting Protocol (CAP): o formato digital para intercâmbio de alertas de emergência que permite uma mensagem de alerta consistente para ser disseminada simultaneamente por diferentes meios de comunicação.

Ÿ Primary Entry Point Stations (PEP): Estações de rádio comerciais ou privadas que colaboram com a FEMA para emitir avisos de alertas de emergência diretamente ao público, antes, durante e após incidentes ou desastres.

Ÿ IPAWS Open Platform for Emergency Networks (IPAWS-OPEN): uma plataforma agregadora de âmbito nacional que recebe e autentica as mensagens transmitidas pelas autoridades federais e as encaminha aos sistemas de alerta públicos existentes e emergentes.

Ÿ Emergency Alert System (EAS): é o caminho da difusão dos alertas via broadcast, cabo, satélite e serviços de telefonia fixa.

Ÿ Wireless Emergency Alert (WEA): é o caminho da difusão dos alertas via telefonia celular e dispositivos móveis

Na questão específica da TV Digital, o sistema atual EAS norte-americano já a utiliza, porém sem nenhum tipo de interatividade, mas testes com a utilização da internet como canal de retorno e envio de informações foram apresentadas em abril de 2015, durante a Feira da National Association of Broadcasters, em Las Vegas, veja na figura abaixo o modelo apresentado, com um box de mensagem complementar.

No modelo testado em 2013, nos EUA foram utilizadas apenas a sobreposição de textos à imagem ou uma tela completa com textos (

NORMAS INTERNACIONAIS

Em 2007, depois de seis anos de estudos, a International Organization for Standardization – ISO, criou uma norma internacional denominada Societal Security – Guideline for incident preparedness and operational continuity management (Segurança social – Orientação para a preparação para incidentes e gestão de continuidade operacional), com o número de ISO/PAS 22399:2007. Segundo a ISO, a norma foi baseada nas melhores práticas dos padrões existentes na Austrália, Israel, Japão, Reino Unido e EUA.

A ISO/PAS 22399:2007 fornece orientação geral a uma organização – privada, pública ou não governamental – para que desenvolva os seus próprios critérios de desempenho específicos para a prevenção de incidentes e continuidade operacional, e crie um sistema de gestão adequado. Ela fornece uma base para a compreensão, o desenvolvimento e a implementação de um plano para a continuidade de operações e serviços dentro de uma organização e para proporcionar confiança ao negócio, à comunidade, aos clientes, ao first respondere às interações organizacionais … A ISO/PAS 22399:2007 apresenta os princípios e elementos gerais para a preparação para emergências e continuidade operacional de uma organização. A extensão da aplicação dependerá de fatores, tais como a política da organização, a natureza de suas atividades, produtos e serviços, e sua localização e condições de funcionamento. A ISO/PAS 22399:2007, no entanto, exclui certas atividades de resposta à emergência na sequência de um incidente, como a ajuda a vítimas de catástrofe e a recuperação da infraestrutura social que devem ser realizadas, primeiramente, pelo poder público, em conformidade com a legislação pertinente. É importante, no entanto, que a coordenação com estas atividades sejam mantidas e documentadas. (ISO Focus, 2007, p.42)

Em 2011, foi complementada, pela ISO 22320:2011, denominada Societal Security – Emergency Management – Requirements for Incident Response (Segurança Social – Gerenciamento de Emergências – Requisitos para Resposta a Incidentes), e pela ISO/TR 22312, que avaliou durante 6 meses as tecnologias existentes na área de segurança social:

O objetivo da ISO/TR 22312:2011 é documentar o conhecimento acumulado no período de seis meses de estudo realizado pelo ISO/TC 223/Ad hoc grupo 1 (AHG1), em que este examinou as diferentes tecnologias disponíveis existentes, cuja padronização seria relevante na área da segurança social. (ISO, s/d)

Atualmente, a ISO está finalizando duas normas que pretendem melhorar a prontidão das pessoas e a resposta aos avisos de alerta, de maneira a salvar vidas e reduzir lesões. Estas normas irão compartilhar as melhores práticas de vários países e afirma garantir que será possível entender um alerta de emergência em qualquer lugar do mundo, não importando a nacionalidade ou o idioma.

O primeiro padrão, ISO 22322, Societal Security – Emergency Management – PublicWarning (Segurança Social – Gerenciamento de Emergências – Aviso Público), fornecerá princípios e diretrizes genéricas para o desenvolvimento, gerenciamento e implementação de avisos públicos antes, durante e após os incidentes. Também esclarecerá quando e como lançar uma mensagem apropriada para as pessoas em situação de risco.

O alerta público eficaz requer sistemas que monitorem os riscos identificados em uma área definida e forneça informações baseadas em evidências sobre desastres (monitoramento de risco). Ele também deve ser claro em relação a quando e como enviar uma mensagem apropriada a pessoas em risco (a disseminação do alerta). Todos os avisos públicos devem incluir um alerta e uma mensagem de notificação. O alerta é concebido para estimular os sentidos auditivo e/ou visuais para atrair a atenção e deve levar em consideração as características e as condições das pessoas em risco, enquanto a mensagem de notificação comunica as ações de segurança adequadas a se tomar em caso de emergência … e fazer com que as pessoas as compreendam. (ISO. s/d)

O segundo padrão, ISO 22324, Societal Security – Emergency Management – Colour-coded alert (Social Segurança – Gerenciamento de Emergências – alerta codificado por cores), pretende especificar os alertas visuais e o uso de várias cores. Como há vários sistemas de cor para avisos de emergência em uso ao redor do mundo e, até mesmo, dentro de um mesmo país, uma abordagem padronizada para procedimentos de aviso de perigo, independentemente do tipo de perigo, ajudará a garantir que as pessoas o entenderão e saberão o que fazer, não importa onde estejam.

Informações, via correio eletrônico, obtidas junto ao Sr. Christopher Thomson, do Customer Service Relations Assistant do departamento de Marketing da Communication and Information da ISO, informam que essas normas tinha data prevista para lançamento em setembro de 2014, porém, até abril de 2015, essas normas não haviam sido publicadas.

CONCLUSÃO

A partir dessa breve descrição dos modelos existentes, o desenvolvimento de interfaces deverá ser elaborado com um olhar transdisciplinar, envolvendo a comunicação, a computação, a engenharia e áreas afins para conjugar usos eficientes e conteúdos interessantes para as diferentes audiências que, de acordo com essa perspectiva, não serão tratadas como objeto, mas como sujeitos-audiências.

Quanto ao tipo de comunicação utilizado, por se tratar de um ambiente de interatividade, é o da comunicação bilateral que, segundo Vanoye é estabelecida a partir de um emissor e um receptor que alternam seus papéis. (VANOYE, 1996)

Isto é trabalho para uma equipe de comunicação multidisciplinar envolvendo profissionais das áreas de Jornalismo, Publicidade e Rádio e TV, visto que uma das grandes discussões concentra-se em como e quais informações deverão ser emitidas para a população.

Cabe aos profissionais de Comunicação o trabalho de assessorar o Poder Público, exatamente, na forma de gestão desse processo comunicacional, colaborando nos estudos práticos advindos de uma consistente análise teórica e comparativa dos melhores modelos existentes, em estreita colaboração com os profissionais envolvidos nos assuntos da Meteorologia e Tecnologia da Informação e Comunicação.

Existe, de fato, espaço para um novo profissional de comunicação, como diz Cosette Castro sobre a produção para TV digital interativa: “Ela abre espaço para o profissional multimídia e para os especialistas em computação, que também serão responsáveis pelas novas produções e deverão prever a elaboração de roteiros específicos voltados às produções multimídia”. (in Barbosa Filho, 2005)

A rigor, a interação com os profissionais de tecnologia da informação é essencial no desenvolvimento de ferramentas que tenham uma usabilidade mais adequada para aqueles que não são da área de tecnologia, mas os usuários comuns. Assim, qualquer que seja a aplicação escolhida, esta deve ser de fácil utilização para qualquer pessoa que tenha conhecimentos básicos de uso do meio, com uma interface simples. Nesse caso, a interface básica é o controle remoto do aparelho de TV.

De acordo com o jornalista Jeff Baumgartne, (BAUMGARTNE, 2013), quando comenta, ao analisar as apresentações realizadas em um evento sobre TV Anywhere, em Nova York, os operadores e programadores de TV devem seguir o princípio Keep it Simple Stupid (K.I.S.S.), a fim de atingir os consumidores de serviços no contexto do uso de televisão em vários dispositivos. Esta afirmação é válida para qualquer tipo de serviço, inclusive os alertas antecipados.

Este trabalho demonstra o quanto é importante envolver a Comunicação Social no desenvolvimento técnico desses sistemas, dominados essencialmente por profissionais de Engenharia e especialistas em Gerenciamento de Desastres que necessitam de suporte a propósito das questões da Comunicação, pois a simplicidade aparente das informações fornecidas pode ser catastrófica.

Dessa forma é possível criar formas de comunicação, utilizando todas as técnicas disponíveis para atender a uma população diversificada e salvar vidas humanas e patrimônio, respeitando as diversidades e a inclusão. Nada disso, entretanto, será realmente efetivo sem que haja o treinamento adequado da população – crianças, jovens e adultos – e o desenvolvimento de ferramentas apropriadas de avisos e ações concretas para medidas de suporte à população em risco.

Fernando José Garcia Moreira, educador, jornalista, publicitário, professor universitário e profissional de televisão. Diretor da TV Univap e presidente da Associação Brasileira da Televisão Universitária (ABTU). Doutor em Processos Comunicacionais pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Professor Titular da Faculdade de Ciências Sociais e Comunicação da Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP. Membro das seguintes associações profissionais: Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão – SET, Broadcast Education Association (BEA / EUA), Society of Broadcast Engineers (SBE / EUA), National Association of Television Program Executives (NATPE) e Associación Virtual Educa (Espanha / OEA)


Educador, jornalista, publicitário, professor universitário e profissional de televisão. Diretor da TV Univap e presidente da Associação Brasileira da Televisão Universitária (ABTU). Doutor em Processos Comunicacionais pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Professor Titular da Faculdade de Ciências Sociais e Comunicação da Universidade do Vale do Paraíba - UNIVAP. Membro das seguintes associações profissionais: Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão - SET, Broadcast Education Association (BEA / EUA), Society of Broadcast Engineers (SBE / EUA), National Association of Television Program Executives (NATPE) e Associación Virtual Educa (Espanha / OEA)

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